No dia 19 de abril de 2005 Joseph Aloisius Ratzinger foi eleito líder da Igreja Católica se tornando o Papa Bento XVI. Assim, ele foi até a Basílica de São Pedro e ao seu redor era possível ver diversos cardeais que haviam acabado de eleger o homem mais poderoso do mundo. Em meio a todo aquele movimento uma pessoa começou a chamar a atenção dos fotógrafos: o cardeal de Chicago Francis George que aparentava estar com uma expressão mais reflexiva diferente dos outros que não paravam de comemorar.
E assim que tiveram a oportunidade os repórteres perguntaram a ele: “O que o senhor estava pensando enquanto olhava o horizonte? ” E ele respondeu: “Eu estava olhando: eu estava olhando em direção ao Circus Maximus de onde uma vez reinaram os imperadores que iniciaram a perseguição aos cristãos. E eu pensei, onde estão seus sucessores?
Onde está o sucessor de Júlio César? Onde está o sucessor de Marco Aurélio? Mas se você quiser ver o sucessor de Pedro, o primeiro Papa ele está aqui bem do meu lado.
Sorrindo e acenando para as multidões. ” A escolha de um papa é um dos momentos mais importantes da história afinal, esse momento muda fortemente o funcionamento da Igreja Católica e cria uma nova era para mais de 1 bilhão de pessoas. O papa é, sem sombra de dúvida uma das figuras mais importantes e poderosas do mundo.
Por isso, a escolha desse nome passa por um seleto e rigoroso processo… até que a escolha é finalmente feita. Mas, como esse processo é feito? Quem pode concorrer para ser escolhido o novo papa?
Quem decide isso? Esse momento é lembrado para sempre como o início de um novo mandato. Então como o papa é escolhido?
Hoje, no Explicando - Sapiens. Oi, eu sou o Tinôco, já se inscreve no canal e a eleição de um novo papa é um dos eventos mais tradicionais e raros da história. Esse processo pode começar de duas situações diferentes com a morte do atual papa ou com a renúncia do papa como aconteceu em 2013 com o Papa Bento XVI, por exemplo.
A partir desse momento a cadeira da maior autoridade da Igreja Católica fica desocupada e assim, inicia-se uma série de eventos meticulosamente organizados para se escolher quem vai ser o próximo papa. E assim, talvez você ache que esse evento é algo recente, do mundo moderno mas na verdade, tudo isso remonta a época de Jesus Cristo. Todo mundo sabe que Jesus tinha 12 apóstolos ou seja, 12 pessoas que tinham como missão aprender seus ensinamentos e seguir seu caminho.
Dentre eles, um em especial chamava a atenção: o nome dele era Pedro. Esse homem foi escolhido por Jesus para ser o líder dessa nova comunidade que estava surgindo. Ele diz: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”.
Por isso, Pedro é considerado o primeiro papa da história o primeiro de 266 papas. Após a morte de Pedro a Igreja decidiu que sua liderança deveria ser continuada e, dessa forma, se iniciou a tradição de eleger um sucessor para ocupar essa cadeira. Só que assim, né, naquela época não era uma parada feita com muita formalidade… Eles olhavam e falavam… ehh pode ser você– pega aqui o seu chapeuzinho.
Foi somente com o crescimento da Igreja como instituição que o processo para escolher o seu líder começou a ser mais organizado e institucionalizado culminando no modelo que conhecemos hoje como Conclave. Vamos supor que o papa tenha morrido. Assim, tudo começa com a verificação do ocorrido onde um cardeal se reúne com outras autoridades da Igreja Católica para um evento relativamente simples.
A ideia é ele confirmar o falecimento do papa a partir de um chamado. O cardeal deve dizer o nome de batismo do papa três vezes e, caso ele não responda, é confirmado sua morte. Agora, se o papa resolve deixar o cargo por qualquer motivo que seja ele tem o direito de fazer isso.
Segundo o Código de Direito Pontífice, cânon 332, parágrafo segundo: “Caso aconteça que o Romano Pontífice renuncie ao seu ofício requer-se para a validade que a renúncia seja feita livremente e devidamente manifestada mas não que seja aceita por alguém. ” O que isso quer dizer é que, basicamente o papa tem o direito de renunciar desde que isso seja uma questão voluntária ou seja, sem que haja uma pressão externa para isso acontecer. Agora, se ele realmente só quer renunciar ele não precisa pedir pra ninguém afinal… meio que ele é o papa.
Então, é só ele ralar. Durante esse período sem papa conhecido como Sede Vacante quem entra em cena é o Colégio dos Cardeais que hierarquicamente na Igreja estão aqui logo abaixo do papa mas agora que esta cadeira está vaga eles passam, temporariamente a ser a maior autoridade da Igreja e tem como responsabilidade escolher o novo papa. Os cardeais dentro desse colégio são escolhidos pelo próprio papa assim que ele assume e tem como objetivo o ajudar em suas decisões e a discutir questões importantes da Igreja.
Imediatamente após a confirmação do falecimento os cardeais de todo o mundo se reúnem no Vaticano sede da Igreja Católica, para as chamadas Congregações Gerais. Esse encontro acontece na Sala do Sínodo um local estrategicamente posicionado entre a residência papal e a Basílica de São Pedro o maior e mais importante edifício religioso do catolicismo. Nela, os cardeais discutem os desafios da Igreja e delineiam o perfil ideal para o próximo papa.
Tecnicamente só existem dois requisitos que você precisa ter para ser eleito papa. O primeiro é ser católico e o segundo é ser homem. Só que na prática as coisas não são tão simples assim já que na grande maioria das vezes o papa é escolhido entre os próprios cardeais já que eles são considerados os membros mais experientes e mais influentes da Igreja estando consequentemente mais preparados para assumir essa missão.
Inclusive, existem alguns cardeais brasileiros dentro desse colégio o que significa que algum deles pode ser eleito como o novo papa. Nessa reunião também é decidido como será o enterro do papa que ocorre dentro de um período de nove dias de luto. E depois de tudo isso chegou o momento de decidir.
O termo Conclave vem do latim que significa algo como “com uma chave” já que nesse momento de escolha do novo papa os cardeais eleitores são completamente isolados do mundo para evitar qualquer influência externa. Assim, os cardeais se reúnem para fazer um juramento solene de manter sigilo absoluto sobre tudo que ocorrer durante a eleição. Posteriormente, todos os cardeais vão para a Capela Sistina aquela mesma pintada por Michelangelo.
Lá, o Mestre das Celebrações Litúrgicas Papais pronuncia a famosa frase que significa “todos fora! ” e assim, as portas da Capela são fechadas. A partir desse momento, apenas os cardeais eleitores e algumas poucas pessoas essenciais para a realização da eleição permanecem no recinto incluindo médicos, uma equipe de apoio técnico responsável pela alimentação e limpeza e até Clérigos Confessores que possuem o poder de ouvir as confissões dos cardeais e absolvê-los de seus pecados.
Dentro da Capela Sistina, os cardeais iniciam o processo formal da eleição do novo papa. O método utilizado é a votação secreta e, para ser eleito um candidato deve alcançar uma maioria de dois terços dos votos. O procedimento é altamente ritualizado e segue regras estritas para garantir sua legitimidade.
No primeiro dia, os cardeais realizam uma votação feita com cédulas retangulares com as palavras em latim "Eu elejo como Sumo Pontífice" impressas em sua metade superior. E logo abaixo, há um espaço em branco onde eles colocam o nome da pessoa escolhida. A parada é feita de uma forma tão secreta que os cardeais são instruídos a escrever com uma letra diferente da que eles estão acostumados para que não seja possível reconhecer quem escreveu.
Depois que todos os votos foram lançados os papeis são misturados em um recipiente próximo ao altar localizado sob o afresco do Juízo Final de Michelangelo. Obviamente a decisão dificilmente é tomada na primeira votação alcançar dois terços dos votos demanda muito tempo. Mas aqui, já é possível sentir os favoritos, guiando as votações em sequência.
Depois de cada votação as cédulas são abertas e os votos são contados meticulosamente por três escrutinadores. Cada uma delas é aberta e lida em voz alta. Depois, ele perfura o papel com uma agulha colocando todas as cédulas lidas em um único fio.
Enquanto isso, o resultado é anotado para que saiba quantos votos cada um recebeu. Após a verificação e a contagem dos votos caso nenhum candidato tenha conseguido atingir os dois terços necessários as cédulas são queimadas com uma mistura química composta por perclorato de potássio, antraceno e enxofre. Essa mistura forma uma fumaça preta densa que saí por uma chaminé instalada na Capela Sistina e que sinaliza ao mundo exterior que a eleição ainda não foi concluída.
As votações podem acontecer até 4 vezes por dia e entre cada uma delas os cardeais têm tempo para fazer suas orações e para tentar encontrar um consenso sobre o melhor candidato. Durante o Conclave, os cardeais dormem na Casa de Santa Marta uma residência dentro do Vaticano. Isso porque, não tem como saber quanto tempo vai demorar para essa escolha acontecer.
O papa pode ser eleito na primeira votação assim como esse processo pode durar semanas ou meses. A Igreja, visando evitar uma paralisia nesse processo estabeleceu algumas regras para lidar com essas situações. Se depois de 33 rodadas de votação, ninguém tiver sido eleito os cardeais podem restringir a escolha para apenas os dois candidatos mais votados na rodada anterior.
Só como curiosidade, para você entender como é tenso a parada o maior Conclave da história durou 3 anos… 3 anos! Enfim, quando finalmente um candidato recebe os votos necessários inicia-se o que é possivelmente o momento mais importante da Igreja Católica. Em meio a um silêncio ensurdecedor, a história está sendo escrita.
Os cardeais sabem que estão testemunhando a escolha daquele que será o sucessor de São Pedro e o líder espiritual para mais de 1 bilhão de pessoas. Quando um cardeal atinge os votos necessários o responsável por presidir a eleição se aproxima do escolhido e lhe faz uma pergunta em Latim: “Aceitas tua eleição canônica para Sumo Pontífice? ” Esse momento é crucial para o resultado já que até que o eleito dê sua resposta sua aceitação não é garantida visto que, teoricamente, ele pode negar o cargo o que exigiria uma nova rodada de votações.
Caso aceite, o cardeal eleito responde: "Eu aceito" e naquele instante, ele se torna imediatamente o novo papa. Ele recebe a plenitude do poder papal o que significa que naquele momento ele se torna o bispo de Roma o líder supremo da Igreja Católica e o chefe de Estado do Vaticano. Após aceitar sua eleição o novo pontífice faz uma escolha profundamente simbólica: ele seleciona o nome que usará como papa.
Por exemplo, o papa Francisco não chama Francisco ele se chama Jorge Mario. Essa tradição remonta do longevo ano de 533 quando o papa Mercúrio optou por adotar o nome de João II. Já que o seu nome, Mercúrio, estava associado ao deus pagão.
Desde então, todos os papas escolhem um nome que simboliza suas intenções prioridades ou homenagens a predecessores que admiram. O papa Francisco, por exemplo escolheu seu nome em referência a São Francisco de Assis destacando seu compromisso com a humildade e a justiça social. De acordo com suas próprias palavras: “[São Francisco de Assis] Para mim é o homem da pobreza, da paz que ama e guarda a criação.
” O ato da escolha do nome encerra o processo de eleição e o novo pontífice é conduzido à Sala das Lágrimas que tem esse nome justamente pelo simples fato de que muitas vezes o cardeal, agora papa, se emociona quando tomado pela grandeza e pelo peso da responsabilidade que aceitou carregar. Ali, ele coloca pela primeira vez as vestes papais brancas preparadas antecipadamente em três tamanhos diferentes para acomodar qualquer eleito. Enquanto isso, dentro da Capela Sistina ocorre um dos rituais mais simbólicos do conclave: as cédulas da votação final são mais uma vez queimadas mas, ao contrário das rodadas anteriores nesta última queima, uma mistura especial é utilizada geralmente incluindo clorato, lactose e resina de pinho para gerar a icônica fumaça branca sinalizando ao mundo que a Igreja Católica tem um novo papa.
Ao mesmo tempo em que a fumaça aparece os sinos da Basílica de São Pedro começam a tocar em júbilo confirmando oficialmente a eleição. Minutos depois, o novo papa é conduzido até a sacada central da Basílica de São Pedro. O cardeal protodiácono, responsável por anunciar o resultado ao público surge primeiro e proclama a famosa frase em latim: Em seguida, ele revela o nome de batismo do eleito e o nome papal que escolheu.
E então o grande momento chega quando o novo papa surge na sacada e dá sua primeira bênção apostólica à cidade de Roma e ao mundo. Essa bênção representa não apenas o início de seu pontificado mas também sua primeira comunicação com os fieis como Sumo Pontífice. É um instante de grande emoção para a Igreja e para os católicos ao redor do planeta marcando o início de uma nova era no Vaticano.
A partir desse momento o novo papa assume todas as responsabilidades e deveres associados ao cargo de Sumo Pontífice. Sua função vai muito além da esfera religiosa abrangendo também aspectos administrativos, diplomáticos e sociais. Como chefe da Igreja Católica o papa tem a missão de orientar os fieis na doutrina cristã promover a evangelização e zelar pela unidade da fé e da moral católicas.
Além de sua função pastoral o papa é também o administrador supremo da Santa Sé a entidade governamental central da Igreja Católica sendo ele quem nomeia cardeais, bispos e outros líderes eclesiásticos além de administrar o Vaticano. No cenário mundial, o papa atua como uma importante figura diplomática. A Santa Sé mantém relações diplomáticas com mais de 180 países e possui status de observador permanente na Organização das Nações Unidas tendo o direito de participar das atividades e discussões da Assembleia Geral e de outros órgãos da ONU embora não tenha direito a voto em resoluções ou decisões formais.
Além disso, o papa se reúne regularmente com líderes globais participa de conferências internacionais e envia mensagens em momentos de crise ou celebração. Sua voz tem muito peso em discussões sobre paz, direitos humanos justiça social e proteção ao meio ambiente refletindo sua posição como líder espiritual de mais de um bilhão de católicos e como figura influente no cenário mundial até sua eventual morte ou renúncia. Assim, o ciclo de sucessão papal continua sustentado por séculos de tradição e fé inabalável.
Dessa forma, o conclave não é apenas uma eleição é um testemunho da unidade e da fé da Igreja uma tradição que conecta o passado ao presente mantendo viva a sucessão apostólica. Cada novo papa traz consigo uma visão única um nome carregado de significado e a responsabilidade de conduzir a Igreja com sabedoria e compaixão. E assim, enquanto o mundo observa a fumaça branca subir da Capela Sistina o ciclo recomeça, perpetuando uma herança de fé que atravessa os séculos.
Bom, esse foi o vídeo, eu espero que você tenha gostado. O roteiro e pesquisa para fazer esse vídeo já estão disponíveis no nosso Clube de Membros aqui do canal. Com apenas 2 reais por mês você tem acesso a diversos benefícios.
É baratinho e eu tenho certeza que você vai gostar. Aqui na descrição nós temos também outros produtos do canal como as nossas camisetas e moletons na Lolja toda hora tem cupom para você usar. São camisetas estampadas com referências históricas e tudo que se fala nos vídeos aqui do canal.
Nós também temos o Assim Falou Tinôco um projeto-irmão do Tinocando TV um podcast onde falamos sobre filosofia de uma maneira mais introspectiva. Então, se você se interessa, não perde tempo e já clica aqui na descrição para conferir. No mais, deixe o seu like, se inscreva no canal aqui embaixo e ative o sininho para não perder nenhum vídeo que a gente posta.
E aqui no final do vídeo vai ter mais uma produção do canal caso você tenha interesse em ver. Muito obrigado pelo seu acesso e até o próximo vídeo valeu, falou, um grande abraço do Tinôco e lembre-se: A existência é passageira. Tchau!