Existe uma analogia de dois pessoas andando descalças por uma estrada muito acidentada, e alguém pensou que seria muito bom cobrir toda a estrada com couro para que ficasse bem macia, mas o outro, que era mais sábio, disse: “Não, acho que se cobrirmos nossos pés com couro seria o mesmo”. Então, isso é paciência, é uma questão de não esperar nada e não tentar mudar a situação fora de si mesmo. E essa é a única maneira de criar paz no mundo.
Todo este mundo é o mundo da mente, o produto da mente. Se você quer resolver os problemas no mundo, primeiro você tem que colocar sua casa em ordem, sua vida individual em ordem. Você não deve tentar mudar a situação - na verdade, não se pode.
Já que você não é um rei, que poderia apenas dar uma ordem e impedir que as coisas acontecessem, você só pode lidar com o que está mais próximo de você, que é você mesmo. Você deve aceitar pessoalmente a responsabilidade de melhorar sua própria vida. Sua Vida é Sua Responsabilidade.
Chögyam Trungpa. Buda descobriu que não existe “eu”, ego. Ele descobriu que todo esses conceitos, ideias, esperanças, medos, emoções, conclusões, são criados a partir de pensamentos especulativos e a herança psicológica dos pais, da educação e assim por diante.
Somos informados a o que pensar, ao invés de fazermos pesquisas reais por dentro de nós mesmos. É preciso aprender a ser um cientista habilidoso. Tudo deve ser visto através do próprio microscópio e temos que chegar às próprias conclusões à nossa maneira.
Até fazermos isso, não há nenhum salvador, nenhum guru, nenhuma bênção e nenhuma orientação que poderia ser de qualquer ajuda. Nem ascetismo nem qualquer padrão preconcebido fornecerá a resposta. Temos que dar o primeiro passo nós mesmos, em vez de esperar que algo venha do mundo fenomenal ou de outras pessoas.
Devemos ver com nossos próprios olhos e não aceitar qualquer tradição estabelecida como se tivesse algum poder mágico nela. É necessário ter uma experiência em primeira mão. Isso nos leva à prática da meditação.
Aqui, a disciplina se faz necessária. Temos que nos disciplinar. Seja na prática da meditação ou na vida cotidiana, há um tendência a ser impaciente.
Se estamos meditando em casa, e por acaso vivemos na rua mais movimentada da cidade, não podemos parar o trânsito só porque queremos paz e quietude. Mas podemos nos parar, podemos aceitar o barulho. O barulho também contém silêncio.
Devemos nos colocar nisso e não esperar nada de fora, assim como Buda fez. E devemos aceitar qualquer situação que apareça. Contanto que nunca recuemos da situação, ela sempre se apresentará como um veículo e poderemos fazer uso dele.
Para alcançar o silêncio, você não afugentaria os pássaros porque eles fazem barulho. Para ficar quieto, você não pode parar o movimento do ar ou o fluxo do rio, mas se aceitá-los, você estará ciente do silêncio. Então, toda a questão é que você tem que estar no centro o tempo todo e não esperar algo externo, pessoa ou situação, para agir por você.
Em outras palavras, aquele que se desenvolve a paciência nunca vai esperar nada de ninguém, não porque ele é desconfiado, mas porque sabe estar no centro e é o Centro. Não se deve esperar nada de fora, não se deve tentar mudar a outra pessoa ou tentar transmitir suas opiniões. Não se deve culpar o ambiente, não se deve culpar as pessoas, não se deve culpar as condições externas, mas sem tentar mudar nada, basta dar um passo à dentro e tentar observar.
Quando alguém é capaz de superar a atitude romântica e emocional, descobre-se a verdade até na pia da cozinha. Portanto, a questão toda não é rejeitar, mas aproveitar esse momento, seja qual for a situação, aceitá-lo e respeitá-lo. Se pudermos nos abrir, de repente começaremos a ver que nossas expectativas são irrelevantes em comparação com a realidade das situações que enfrentamos.
Devemos renunciar às nossas esperanças e expectativas, bem como aos nossos medos, e marchar diretamente para o desapontamento, trabalhar com o desapontamento, entrar nele e torná-lo nosso modo de vida, o que é uma coisa muito difícil de fazer. “Estou sozinho e minha jornada espiritual é a minha experiência”. Esta é a verdadeira experiência de liberdade e independência.
Então começamos a ver que estar sozinho é uma coisa muito bela. Ninguém está obstruindo nossa visão. Temos visão panorâmica completa.
Não podemos evitar nossas vidas. Temos que enfrentar nossas vidas, jovens ou velhos, ricos ou pobres. Aconteça o que acontecer, não podemos nos salvar de nossas vidas.
. . Quanto mais você entende, mais você vai perceber sua própria responsabilidade.
Temos medo de enfrentar a nós mesmos. Esse é o obstáculo. Vivenciar o âmago da nossa existência é muito embaraçoso para muitas pessoas.
Muitas pessoas se voltam para algo que esperam que as liberte, sem que elas tenham que enfrentar a si mesmas. Isso é impossível. Não podemos fazer isso.
Devemos ser honestos conosco. Precisamos ver nossas vísceras, nosso excremento, nossas partes mais indesejáveis. Temos que vê-los.
O que quer que esteja lá, temos que enfrentá-lo, temos que olhar, estudar, trabalhar com isso e praticar meditação com isso. Primeiro olhe para si mesmo, mas não se condene. A ideia é simplesmente enfrentar os fatos.
A honestidade desempenha um papel muito importante. Basta ver a verdade simples e direta sobre você. Quando você começa a ser honesto consigo mesmo, desenvolve um nível genuíno de verdade.
Simplesmente descubra o que está lá; simplesmente veja! Nossa vida é uma jornada sem fim; é como uma ampla rodovia que se estende infinitamente na distância. A prática da meditação fornece um veículo para viajar nessa estrada.
Nossa jornada consiste em constantes altos e baixos, esperança e medo, mas é uma boa jornada. A prática da meditação permite-nos experimentar todas as texturas da estrada, que é o objetivo da viagem. Por meio da prática da meditação, começamos a descobrir que dentro de nós mesmos não há queixas fundamentais sobre nada ou ninguém.
O voto de bodhisattva reconhece confusão e caos - agressão, paixão, frustração, frivolidade - como partes do caminho. O caminho é como uma estrada larga e movimentada, com bloqueios de estradas, acidentes, obras e polícia. É bastante assustador.
No entanto, é majestoso, é o grande caminho. “De hoje em diante até a obtenção da iluminação, estou disposto a viver com meu caos e confusão, bem como com o de todos os outros seres sencientes. Estou disposto a compartilhar nossa mútua confusão”.
Portanto, ninguém está jogando um jogo de superioridade. O bodhisattva é um peregrino muito humilde que trabalha no solo do samsara para desenterrar a joia nele embutida. Devemos estar dispostos a ser pessoas completamente comuns.
O que significa aceitarmos como somos, sem tentar ser maiores, mais puros, mais espirituais, mais perspicazes. Se pudermos aceitar nossas imperfeições como são, normalmente podemos usa-las como parte do caminho. Mas se tentarmos nos livrar de nossas imperfeições, então elas serão inimigas, obstáculos no caminho para nosso aperfeiçoamento.
A prática cotidiana consiste em simplesmente desenvolver uma aceitação e abertura total a situações e emoções, e a todas as pessoas, vivenciando tudo totalmente sem reservas ou bloqueios mentais. Por favor, não machuque os outros . .
. Por favor, tente trabalhar com as pessoas e ser útil a elas. Um número fantasticamente grande de pessoas precisa de ajuda.
Por favor, tente ajudá-los, pelo amor de Deus, pelo céu e pela terra. Não colete apenas sabedorias orientais uma após a outra. Não se sente apenas em uma almofada de meditação vazia.
Mas saia e tente ajudar os outros, se puder. Esse é o ponto principal . .
. Sua ajuda não precisa ser grande coisa. Para começar, basta trabalhar com seus amigos e trabalhar consigo mesmo ao mesmo tempo.
Comece a construir confiança e alegria em sua própria riqueza. Já é hora de nos tornarmos responsáveis por este mundo.