[Música] desde os homens Caçadores das primeiras eras eram eles quem podiam oficialmente trabalhar estudar votar e filosofar por muito tempo a vida pública e intelectual foi quase exclusivamente do homem ainda que as mulheres exercessem sua intelectualidade raramente iam para as capas dos livros e tantas foram descritadas E desacreditados assim a história do mundo vem sendo contada de forma parcial de hoje buscam resgatado a pagamentos suas antecessoras para junto a elas criaram o mundo onde a segregação por gênero cor lugar de origem classe social Não determine mais quem deve ou não participar e contar a história
do mundo filosofia substantivo feminino [Música] filosófico Vivemos um país que foi colônia de Portugal e mesmo com a independência territorial e política de hoje quanto do nosso pensamento ainda reflete a cultura Europeia o quanto a nossa maneira de organizar O Mundo Continua Seguindo os valores de nossos colonizadores e como a parte não colonizada das culturas sul-americana indígena e africana podem contribuir com o debate atual sobre as questões do racismo do feminismo das orientações sexuais é essa multiplicidade de Olhares Sobre o mundo que as correntes do pensamento de Colonial buscam resgatar a gente vai conversar um
pouco sobre o feminismo de Colonial é a partir de Maria lugones né eu vou começar apresentando lugonis para vocês e apresentando Quem são os pilares do pensamento dela Maria lugonis foi uma filósofa Argentina nascida na Argentina mas que muito jovem ainda se mudou para os Estados Unidos ela se mudou ainda antes dos 20 anos fez toda a sua formação nos Estados Unidos e lugonis ela fez a carreira sobretudo na área mais a sociologia e isso mais uma vez porque a filosofia não não abre muito espaço para temas da decolonialidade né mas na sociologia Ela acabou
desenvolvendo uma carreira importante e como feminista evidentemente também ela chega no momento em que ela ao ver o feminismo ela percebe que o feminismo tradicional feminismo ocidental o feminismo que a gente costuma chamar das mulheres brancas europeias norte-americanas né eram feminismo que não abria espaço para interseccionalidade a interseccionalidade entre raça e gênero ele não dava voz a uma série de mulheres então a gente percebe que nas diversas ondas do feminismo você no primeiro momento você busca a igualdade as Mulheres Querem os mesmos direitos civis que os homens querem poder votar e etc no segundo momento
nós temos as Mulheres Querem o reconhecimento da particularidade do feminino né E aí entra uma segunda onda né com algo que é bastante controverso dentro da própria perspectiva feminista porque porque muitas vezes o que era considerado uma particularidade do feminino é algo que é uma simples reprodução do modo como os homens expressam O que é esperado do próprio feminino ou seja associação do feminino como a que cuida né aquela que tem um acesso mais imediato e etc né e o que a gente percebe dentro a partir das outras correntes do feminismo né É que as
mulheres negras por exemplo elas nunca foram associadas com essa fragilidade e com todos esses elementos que eram claramente identificados dentro da perspectiva feminismo ocidental né então é como se de fato fosse uma percepção do ser mulher totalmente diferente Então essas mulheres no grupo dos homens elas no grupo dos homens negros elas eram mulheres e no grupo das mulheres elas eram negras então não certo sentido existia uma falta de lugar né E além disso O que alugou nos identifica também é uma clara percepção do modo como patriarcado e a hétero normatividade ela vai sendo não discutida
dentro do próprio feminismo né como os princípios básicos da heteronormatividade eles acabam impregnando as próprias demandas feministas e ela vai então fazer uma crítica a esse feminismo a partir de duas formas de pensamento que já estavam sendo desenvolvidos na época dela inclusive que ano que é um dos principais representantes da perspectiva de Colonial ele trabalhou Ele se formou na mesma universidade em que ela trabalhava né ele é mais velho do que ela então ela tem muito contato com o pensamento de colonial e também tem muito contato com o feminismo das mulheres racializadas né e do
Sul Global então ela vai pegar essas duas fontes de pensamento e vai tentar fazer uma crítica do feminismo endossando aquilo que a gente chama e de feminismo de Colonial na verdade a gente costuma falar no plural porque são tantas formas e tantas correntes que compõem o feminismo de Colonial que a gente fala de feminismos de coloniais bom Aníbal que ano ele nasceu e morreu no peru então ele tem todo uma produção voltada para o pensamento latino-americano o pensamento dos países colonizados né e ele vai tentar ele vai cunhar o conceito de colonialidade do Poder né
E essa colonialidade do Poder ele entende como sendo uma estrutura de ordenação e dominação das sociedades que tem duas bases a primeira ou todo o processo de colonização e a segunda o processo de a modernidade todas elas são eixos esses dois eix vão tentar de alguma forma tornar possível um sistema de dominação capitalista o que que ele vai chamar de colonialidade colonialidade para ele é uma estrutura de organização social presente ainda nos dias atuais que nos reporta ao processo de colonização das Américas né e da África e enfim dos países do sul Global né E
que desenvolve um pensamento e uma estrutura de hierarquização dos indivíduos própria estrutura é essa baseada no pensamento produzido pela modernidade a modernidade por sua vez é caracterizada como a produção de pensamento europeu do século 17 que surge no século 17 esse pensamento ele vai de alguma forma associado ao processo de colonização Ele vai tentar fornecer os fundamentos necessários para que ovos dominados assumam a perspectiva de povos subjugados tentando deixar mais claro né O que vai acontecer dentro da perspecca dentro da perspectiva do pensamento moderno o europeu vai se apresentar como aquele que é detentor das
características mais fundamentais dos seres humanos caracterizadas como a liberdade e a racionalidade né e encontra a posição a isso ele vai caracterizar todos os outros grupos socioculturais então é o que ramo comenta inclusive que entre os diversos grupos que foram lidos a partir do pensamento europeu só os orientais foram reconhecidos como uma autêntica autoridade todos os outros foram reconhecidos como povos que comparativamente aos europeus estavam numa escala de desenvolvimento numa escala evolutiva abaixo do europeu Então a partir daí temos uma série de binarismos que marcam a sociedade até os dias de hoje né um binismo
que diz respeito ao civilizado e ao primitivo ao racional e ao racional ao branco e ao negro ou racializados que não são só os negros mas também os povos indígenas né E também aos homens e as mulheres todo esses binarismos eles vão compondo o modo de organização dessa sociedade de tal forma que os subordinados os dominados eles internalizassem a sua própria inferioridade O que torna é o processo de se rebelar Contra isso muito mais complexo porque a gente vê os rasgos né os restos disso na sociedade atual Eu costumo andar como exemplo as situações em
que a gente precisa de alguma coisa e uma pessoa muito humilde vem e nos oferece aquilo nos oferece uma ajuda né E aí quando nos pede de nós ela diz e você já devem ter escutado essa frase elas elas nos dizem Me desculpe alguma coisa né então elas vieram nos fazer um favor Nós deveríamos estar extremamente agradecidos mas é essas pessoas internalizam de tal forma essas relações hierárquicas que o fato de nós muitas vezes sermos identificados com determinado grupo social dominante né uma classe social dominante um grupo é racial dominante etc faz com que elas
se sintam quase que obrigada a nos servir em nos servir da melhor maneira possível né É claro que evidentemente Nem todas as vezes que se é dito assim isso tem essa percepção mas isso mostra como isso tantas vezes está internalizado na gente né internalizado na nossa forma de ver o mundo então é isso foi todo um programa que veio acompanhado com colonização do poder e do saber todos os saberes que eram produzidos nas colônias porque nós tínhamos é nas colônias já um saber existentes Eles foram considerados como misticismo foram considerados como irracionais e assim sucessivamente
não houve embora a gente em filosofia fale muito na boa vontade interpretativa não houve a menor Boa Vontade de interpretativa aquelas pessoas foram simplesmente classificadas como irracionais né aquilo não faz nenhum sentido então nós precisamos levar o que faz sentido para essas pessoas né E quando nós dizemos que o que elas fazem não faz sentido que elas acreditam não faz sentido nós tentamos destruir toda uma percepção de mundo que garante a identidade delas e impor uma identidade outra a esse grupo né então nós temos aí uma criação de novas subjetividades o que que ramo vai
tentar mostrar um os elementos fundamentais da perspectiva dele é mostrar que a a raça é uma criação é uma construção Colonial né E foi uma forma que os europeus encontraram de justificar com base numa espécie de ciência natural a distinção entre os diversos grupos e A Hierarquia ser estabelecida por eles então é mais ou menos isso que o ano tenta trazer uma forma de perceber a colonialidade como um processo bastante mais amplo e que faz com que ele seja perpetuado até os dias de hoje hoje em dia a gente não tem mais uma colônia né
por de trás de nós mas nós temos a colônia internalizada na academia o pensamento que é produzido é um pensamento europeu ou norte-americano nós não temos espaço para um pensamento que não seja desse tipo pelo menos não na filosofia né Eu costumo dar como exemplo é quando se discute o feminismo no Brasil na academia na filosofia se discute o feminismo europeu norte-americano o máximo que as pessoas falam o máximo de revolucionário que elas são capazes de mencionar e judithler mas é muito curioso porque as próprias filósofas latino-americanas não são lidas nos países latino-americanos né quer
dizer então é uma é uma colonização de saber que é impressionante tá de tal forma impregnada que a universidade não consegue se quer fazer essa autocrítica bom mas que ano embora ele tenha apresentado esse elemento da raça como sendo uma categoria construída quando ele vai falar do sexo e gênero ele fala da dominação sim ele fala que existe uma dominação dos homens sobre as mulheres mas essa dominação ele é colocado ele atribui as próprias características dos homens e das mulheres né então o a principal crítica que a Maria lugonis vai fazer o querano ele não
perceber que a mesma construção que ele identifica em raça está também em gênero e Sexo né quer dizer ambos conceitos são uma criação do sistema colonial né E que se apoderam dessas categorias que se apodera dessas categorias para justificar uma hierarquia que não necessariamente existia para justificar uma divisão social dos indivíduos que não é uma distribuição uma divisão natural a todas as sociedades é importante considerar as mudanças que a colonização trouxe para entender a extensão da organização do sexo e do gênero no colonialismo e no interior do capitalismo global e eurocêntrico as correções substanciais e
cosméticas sobre o biológico deixam claro que o gênero precede os traços biológicos e os enchentes de sentido a naturalização das Diferenças sexuais é outro produto do uso moderno da ciência que que hano subtrai para o caso da raça o que que lugores vai fazer ela vai recorrer ao feminismo das mulheres racializadas justamente para mostrar que não é assim que elas são capazes de nos dar exemplos de sociedades que não são marcadas por isso ela vai assumir a decolonialidade mas ao mesmo tempo ela vai acusar o que rano de não ter percebido de ter caído na
armadilha de uma de um sistema que é patriarcal e que é ter normativo e por causa disso não ter sido capaz de ver que categorias de sexo gênero foram igualmente criadas para obedecer ao mesmo sistema no próximo bloco o gênero é uma construção social mas o sexo também é uma constituição social este que é o ponto [Risadas] Não há dúvida que as lutas feministas avançaram ao longo das últimas décadas mas a ideia do que querem e podem mulheres muitas vezes ainda está apoiada em dogmas que desconsideram as diferenças as particularidades de cada grupo feminino de
cada mulher investigo a intersecção entre raça classe gênero e sexualidade Na tentativa de entender a preocupante indiferença dos homens com relação às violências que sistematicamente as mulheres de cor sofrem mulheres não brancas Mulheres vítimas da colonialidade do poder e inseparávelmente da colonialidade do gênero mulheres que criam análises críticas do feminismo hegemônico precisamente por ele ignorar a interseccionalidade das relações de raça classe sexualidade gênero O que é fazer é tentar mostrar que essas categorias assim como a própria noção de hétero normatividade e o patriarcado elas não são universais ou seja elas não passam todas as sociedades
humanas e elas não são a única forma dos seres humanos se organizarem né E para fazer isso ela vai no primeiro momento chamar Ayumi que tem um livro chamado a invenção da mulher que é fantástico que é de 97 na verdade foi a tese de doutorado dela apresentada nos Estados Unidos onde ela justamente faz essa crítica a partir da sociedade iorubá né aí nigeriana ela nasceu em 57 e ainda está viva e o livro dela foi traduzido para o português se eu não me engano Há dois anos atrás ou seja se vocês pegarem o livro
da Judith butler e imaginária o tempo que demorou a Judite butler para ser traduzida para o português e o que demorou e eu ia hume que tinha uma tese bastante semelhança dela que era uma crítica própria binarismo né de gênero para ser traduzido vocês vão ver que ela demorou quase 20 anos para ser traduzida né e ainda assim ela é muito pouco conhecida no meio acadêmico E no meio filosófico eu diria menos ainda né bom o que que ela vai fazer ela vai pegar a estrutura da língua da sociedade urubá e ela vai mostrar que
em urubá não existia os termos que foram um cunhados depois no inglês para o inglês para traduzir homem e mulher ali a hierarquias era um estabelecidas por pelo papel que o indivíduo dizia ocupa numa determinada linha genealógica ou seja os mais velhos vão ser pessoas que vão ter mais poder do que os mais novos isso Independente de terem genitália feminino ou masculina existe um termo para isso né mas esse termo não servia para estabelecer nenhum tipo de hierarquia dentro da sociedade né quando a sociedade Urbana ela foi colonizada pelos ingleses então eles cunharam palavras Eles
criaram uma palavra para designar isso só que as palavras que eles criaram não tem a mesma estrutura da própria do próprio modo como isso era percebido se a gente pega em inglês o a palavra humana e Man é a palavra é uma derivação da palavra meme quer dizer então é de alguma forma A Hierarquia já está previamente estabelecida dentro da própria língua em urubá para que eles fizessem isso eles tiveram que criar quase que reescrever a história da sociedades zorobas que não tinham sexo né E que é o próprio a própria narrativa não permitia identificar
como sendo sexo feminino ou do sexo masculino só que quando foi feita a tradução dos textos eurobais os deuses foram todos traduzidos como masculino por que porque era impensável a partir do processo de colonização e a partir do que já vivenciava as sociedades é dominantes coloniais que uma mulher pudesse ser uma deusa pudesse ser alguém com algum poder na sociedade então já foi feito toda uma mexida na história iorubá para que ela pudesse se encaixar naquelas traduções que estavam sendo oferecidas e ela comenta que inclusive as intelectuais que a partir daí se desenvolveram muitas vezes
já assumiram essa diferença de sexo e gênero dentro do próprio movimento feminista ou seja ela sequer olhar para trás da própria cultura para o quanto essa cultura já tinha sido impregnada por uma visão Colonial Então o que ela vai tentar dizer que nessas sociedades inclusive o controle financeiro o controle da produção todo ele dependia dessa sua posição na linha genealógica da família se você é mais velho Independente de qual fosse seu sexo você era aquela pessoa que detinha o poder né E que detinha a experiência que detinha eu saber para aquele grupo né E era
dessa maneira que você era visto e ela tenta mostrar também E aí nós vamos pegar também a contribuição da nossa outra no nosso outro Pilar da lugonis que é a Paula a mãe indígena ela era uma indígena né nasceu no Novo México Estados Unidos né numa comunidade e ela foi uma escritora uma poetisa e o que ela faz é tentar resgatar justamente essa percepção de que várias comunidades indígenas do Sul Global né E mesmo do Estados Unidos A grande maioria delas não são patriarcais porque porque era atribuída a mulher é o papel da responsável pela
pela organização social e tudo mais e isso tornava ela é a pessoa que tinha mais poder dentro daquela sociedade né E que Muitas delas é a própria classificação de ser homem ou mulher não estava relacionada E aí não será sentido também ser do sexo feminino ou masculino não estava relacionada a uma conformação morfológica ou uma uma biologia né natural mas estava relacionada ao tipo de atitude muitas vezes aos sonhos que as pessoas tinham um filme mulher Rei trata justamente de uma de uma comunidade onde uma mulher acaba ao final do filme assumindo a posição de
rei [Aplausos] a primeira coisa que me causou um certo estranhamento é que não saberia dizer se nessa sociedade na época em que isso aconteceu elas eram consideradas mulheres porque segundo a Paula Alan é uma mulher alguém com genitália feminina que de alguma forma sonhasse com guerra e coisas assim era dentro daquela comunidade caracterizada como um homem e não como uma mulher independente da conformação fisiológica né então isso é muito interessante porque com isso ela quebra justamente isso que seria esse padrão biológico que está estruturando a diferença entre sexo e os outros demais padrões que vão
a partir de um determinado momento conformar a diferença de gênero também né porque na verdade é um gênero ele acaba surgindo como uma tentativa de desviar um pouco da Matriz biológica as diferenças entre esses dois grupos Mas o que o feminismo de Colonial tenta mostrar e Judith Butter nesse sentido também né é que nesse caso eles são ambos construções não é só o gênero o gênero é uma construção social mas o sexo também é uma construção social este que é o ponto então a Paula vai mostrar que em vários e homem também que em várias
comunidades indígenas ou é comunidades africanas é nós tínhamos indivíduos que hoje seriam que nós chamamos de pessoas intersexo e que essas pessoas elas eram terceiro sexo na sociedade elas eram não sexo que representava uma terceira possibilidade de ser né e mais do que isso né muitas essas pessoas não não eram discriminadas como pessoas que possuem a Sexualidade ou uma conformação anatômica inadequada que é justamente o que acontece na nossa sociedade Eu sempre gosto de lembrar que segundo a organização intersexo australiana uma a cada 100 pessoas é intersexo né a intersexualidade compreende mais de 40 modalidades
entre elas o que a gente chama de pessoas que estão que não tem receptividade ao hormônios né específicos e também a genitária ambígua muitas vezes caracterizada pelo micropênis E essas pessoas elas são caracterizadas na sociedade como pessoas que estão totalmente fora da Norma né pessoas que que passam toda uma vida tentando encontrar um lugar social encontrar um banheiro as coisas mais básicas elas se tem privadas das coisas mais tipo o banheiro que elas gostariam de usar né Isso sem falar na questão evidentemente da URI da própria orientação sexual né Isso era uma questão bastante cara
a logones a heteronormatividade compulsória da nossa sociedade e o modo como a qualquer desvio disso era percebido como uma falha a ser corrigida na sociedade então o que ela tenta fazer em realidade é tentar mostrar que essas diversas construções são meros mecanismos de poder que tentam sustentar uma ideia de sociedade e tentam vender esse modelo sociedade como o único possível o único saudável o único que vai ser admitido no corpo social talvez a maioria dos indivíduos né da nossa sociedade se vê em privado de exercer livremente a sua sexualidade e a sua identidade de gênero
Hoje em dia a gente já fala já percebe um ranking muito maior de identidades possíveis né E nós estamos no momento em que estamos brigando para ter uma linguagem neutra mas isso tudo é uma questão de Hábito e de costume e se a gente acha importante que as pessoas de fato não se sintam violadas por serem por só nós só reconhecemos essas duas categorias né Nós precisamos mudar essa atitude no próximo bloco Antes de nós nos perguntarmos aquela pessoa do sexo feminino do sexo masculino Qual é a cor da pele dela e etc nós vemos
ali uma pessoa que tem funcionamento básicos e a partir do reconhecimento desses funcionamentos básicos que ela quer ser reconhecida [Música] questionar as bases teóricas que formaram os valores morais os mecanismos de Justiça da nossa sociedade pode ser fundamental para romper com as formas de opressão que ainda persistem como foi construída em nós a ideia do certo e do errado dos padrões de Conduta que devemos seguir das vidas que merecem mais ou menos proteção como a nossa colonização ainda reverbera nas nossas ideias e práticas de Justiça então a minha contribuição aqui vai ser justamente voltar para
o papel de filósofa né E nesse debate trazer uma perspectiva de colonial do que seja justiça e do que seja moralidade porque porque a filosofia ela reproduz até hoje os mesmos padrões de justiça e moralidade em todos os grandes centros quando a gente vai estudar ética vai estudar ética aristotélica ética Kantiana ética utilitarista e quase sempre vai identificar como aqueles que pertencem ou o que são objetos de nossa consideração moral seres que de alguma forma são Racionais e Livres né porque ser racional e livre é o que supostamente caracterizou o ser humano desde o início
da humanidade né Essa concepção de que quem é o objeto da moralidade Quem é aquele que eu preciso respeitar moralmente é o ser que é livre irracional é uma perspectiva que perpassa grande parte da tradição filosófica e ela faz uma junção entre aquele que é o agente moral ou seja aquele que toma decisões Morais que reflete sobre a moralidade e aquele que é foco da moralidade né o que eu vou tentar fazer aí é uma Entre esses dois indivíduos né quer dizer eu vou dizer que o agente moral somos nós somos nós que temos um
poder de deliberar sobre as nossas ações de tomar decisões de endossar certos valores e assim sucessivamente Mas o que eu vou chamar aqui de concernidos Morais que é o conjunto dos indivíduos que deveriam ser abarcados pela moralidade ou que deveriam ser objeto de nossa consideração consideração moral é um conjunto muito mais amplo que evidentemente nos compreende mais que deveria compreender muito mais indivíduos né E para fazer isso eu vou buscar uma caracterização específica de quem é o indivíduo entendido como consernismo moral na filosofia nós temos algumas opções a primeira que eu já mencionei aqui né
É a de São aqueles indivíduos Racionais e Livres Eu já descartei essa porque eu acho que ela é extremamente excludente ela exclui Eu costumo dizer tipo 98% dos seres humanos em pelo menos alguma fase da sua existência por quê Porque nós Não nascemos assim e muitos de nós não vão morrer assim também né quer dizer nós temos fases da nossa vida em que nós não somos nem Livres nem Racionais e nessa fase da nossa vida nós somos objetos de consideração moral eu acho que todos nós aqui considerariamos que nessas fases nós somos ainda mais objetos
de consideração moral porque nós precisamos ser acolhidos né no momento em que nós não podemos tomar muitas vezes as nossas próprias decisões né e se isso é verdade então racionalidade e liberdade é uma caracterização muito restritiva de quem é o conceito na filosofia nós temos uma outra caracterização que é bastante famosa né que é dos seres sencientes essa perspectiva que foi introduzida com Benta e depois quer dizer na verdade o próprio Rio me já menciona também essa possibilidade mas é apresentada mais claramente com Benta e atualmente desenvolvida da forma mais bem estruturada que eu conheço
por the singer né Ela é uma perspectiva que evidentemente já abrange muito mais ela abrange vários seres humanos que não são nem Racionais nem livres e ela abrange também animais na humanos né mas eu gostaria de algo ainda mais imprudente que é o conceito de sistemas funcionais por exemplo eu tenho meu sistema circulatório o meu sistema digestivo o meu sistema respiratório e tudo isso junto compõem mais ou menos aquilo que eu sou né E esse sistema funcional que eu sou por sua vez é parte de outro sistemas funcionais mais complexos como por exemplo é a
cidade onde eu vivo e onde Eu voto para vereador para Deputado né o país onde eu vivo onde eu volto para Presidente e etc né E também sistemas mais amplos como a terra né quer dizer então a caracterização de indivíduos como sistemas funcionais ela tem essa flexibilidade de não ser algo que restringe o nosso foco numa determinada direção específica física e temporalmente delimitada faz com que eu possa ser vista como tendo demandas diferentes nos meus distintos de existência isso faz com que a moralidade um olhar da moralidade sobre mim ele possa ser mais minucioso mais
cuidadoso mais atento então agora quando nós olhamos um indivíduo antes nos perguntarmos aquela pessoa do sexo feminino do sexo masculino Qual é a cor da pele dela e etc nós vamos ali uma pessoa que tem funcionamentos básicos e é a partir do reconhecimento desses desses funcionamentos básicos que ela quer ser reconhecida então o foco da moralidade passa a ser o respeito aos funcionamentos básicos de cada sistema funcional né E esses funcionamentos básicos vão ser diferentes quando eu era criança era um funcionamento básico poder brincar hoje em dia o funcionamento básico para mim é poder votar
né é poder me expressar e no futuro Talvez seja poder ficar ao lado das pessoas que eu amo né ter o acolhimento delas né E talvez votar não tenha mais nenhuma relevância para mim e assim sucessivamente né então é isso só para mostrar que a moralidade ela tem que estar atenta isso da mesma maneira que isso ocorre a nível de indivíduo ela vai ocorrer também do indivíduo ela vai ocorrer a nível dos diversos indivíduos que perpassam a nossa sociedade então agora a gente não tem mais uma um elemento que permita distinguir seres humanos de animais
não humanos porque porque os animais não humanos também tem funcionamentos básicos e adotar uma atitude respeitosa para com ele significa reconhecer os seus funcionamentos básicos e não os que a gente projeta neles mas o que para eles próprios é fundamental E para isso a gente tem que ter evidentemente uma sensibilidade uma escuta muito específica muito mais apurada da mesma maneira agora então ninguém mais é considerado uma pessoa com deficiência porque a sua identidade comporta elementos que a minha identidade por exemplo não comporta né então por exemplo alguém que faz uma prótese para implantação de um
pênis não é necessariamente uma pessoa que precisa receber um Cid né porque porque simplesmente uma pessoa que para realizar plenamente sua identidade incorporou a si um outro elemento da mesma maneira como nós o tempo todo incorporamos para realizar realização plena dos nossos funcionamentos outros objetos como por exemplo um aparelho dentário um óculos uma perna mecânica e etc Eu talvez tenha incorporado livros né e sem esses livros Eu talvez seja tão impotente como ela sem a perna mecânica né são apenas variações variações do modo como nós organizamos nossa própria identidade Então eu acho que essa perspectiva
ela nos livra de uma série de preconceitos que tem feito com que determinados indivíduos da sociedade tenham sido deixado a margem tenham sido silenciados durante todo esse tempo na sociedade né e entre esses elementos estaria também o próprio meio ambiente então quando a gente percebe que agora nós precisamos considerar como objeto de consideração moral todos aqueles que integram nossa própria identidade a gente tem que imaginar que numa coletividade indígena o rio ele tem um papel totalmente diferente do que ele tem para mim mas uma comunidade indígena tem um rio como parte de si próprio como
parte da sua família então todas as vezes que eu mudo curso de um rio ou que eu impeço que um rio floresça que ele tenha ele Desenvolva o seu lugar de proteção de determinadas espécies e de sustentação mesmo né de geração de várias espécies eu tô aniquilando a identidade daquele indivíduo porque o Rio para ele é parte dele mesmo da mesma maneira que com para todos nós existem objetos inanimados que são parte de nós mesmos Então dessa maneira a gente passa a incorporar na moralidade vários elementos que eram colocados à margem e que intuitivamente nós
sempre consideramos como conselheiros Morais porque não há uma única guerra em que a Comunidade Internacional não peça para que os monumentos históricos sejam protegidos não há uma única guerra onde apesar de escolas e hospitais estarem sendo bombardeados as pessoas fiquem estarecidas quando monumentos históricos que contam a história da humanidade deixam de existir né então é basicamente isso eu quero apontar aqui com a perspectiva que eu chamei perspectiva dos funcionamentos justamente Essa visão não especista que me parece que foi o último Guardião desses nossos preconceitos né quer dizer nós tivemos apesar de todo o processo de
de colonização de crítica a ideia de raça de crítica a ideia de sexo e gênero nós mantive então ainda a noção de espécie como algo que preserva a nossa particularidade a nossa dignidade e algo que seja caro a nós né e a perspectiva dos funcionários ela avisa justamente destituir essa hierarquia né E dizer não nós somos a gente Morais a moralidade é algo que Nós criamos Nós seres humanos e não todos os seres humanos os seres humanos que tem poder de deliberação poder de escolhas poder de defender os seus próprios valores criaram mas não criamos
só para nós Nós criamos para uma sociedade em que o maior número possível de indivíduos encontre um lugar e um lugar desrespeito e consideração no próximo bloco nosso sistema educacional ele está totalmente moldado por uma concepção de educação que é caduca porque ela negligencia várias outras formas de saber e desistir no mundo [Música] o movimento de Colonial busca dar protagonismo para pensadores filósofos e filósofos que tiveram e ainda tem suas ideias e teorias soterradas pelo pensamento eurocêntrico que colonizou boa parte da civilizações na prática essa descolonização da nossa visão dos nossos saberes ampliará a nossa
interpretação da vida pode ser um caminho para criar uma sociedade mais inclusiva que abrirá espaço para mais formas de estar no mundo meu nome é Vanessa eu sou professora de música Sou psicanalista Tenho procurado pensar uma psicanálise que esteja vinculada ao movimento de colonial e nos meus estudos eu tenho chegado a conclusão que não é possível pensar uma escuta para as pessoas que desconsiderem quem elas são e faz as suas necessidades básicas como seria na prática pensar políticas públicas para surgir para as funcionalidades do sujeitos a gente tem colocado isso na prática Na verdade eu
faço parte de um programa de bioética né saúde coletiva e tenho vários alunos e vários colegas que tem tentado colocar isso nas suas respectivas áreas né Eu acho que o que a gente tem feito é sempre tentar olhar para as particularidades de um grupo embora a perspectiva de funcionamento seja uma perspectiva sempre voltada para o indivíduo faz particularidade daquele indivíduo é a nível de políticas públicas a gente tem que trabalhar com grupos né então a gente tenta identificar quais são essas demandas a partir da voz e da escuta apurada desses indivíduos né e tenta sistematizar
isso de forma a Gerar políticas públicas que atendam aquelas demandas específicas né só para dar um exemplo para você o processo transexualizador durante muito tempo se achou que um elemento fundamental do processo transexualizador era fazer a cirurgia né só que não é né quer dizer e as pessoas durante muito tempo tentaram lutar pelo Direito de manter o mesmo corpo e fazer a mudança do nome né e para quem tá dentro do sistema hetero normativo e isso é meio inconcebível né porque as pessoas ficam achando não mas como assim quer dizer quer o quê Afinal quer
ser homem com pênis ou quer ser mulher com vagina quer dizer como é que vai se chamar Maria mas manter o pênis e tudo mais e o que essas pessoas se a gente escuta o que elas têm a dizer é o que que o meu pênis tem a ver com a minha identidade enquanto Maria Eu acho que isso fica muito Claro no caso das pessoas intersexo eu tenho um grande amigo que é uma um representante do movimento intersexo aqui no Brasil né o amiel eu fiz um filme sobre a história dele né e é muito
impressionante porque uma coisa que o Ariel sempre dizia é que ele se sentia um corpo médico psicóloga a Roubaram o corpo dele né quer dizer então ele já não se sentia nada eu entrei na adolescência os 15 anos eu me sentia desse jeito sem conseguir falar de mim e sem conseguir me entender do meu próprio corpo e da minha própria história Então o que a gente pode entender é que muitas vezes as interferências que nós achamos ou as políticas públicas achavam que eram bem-vindas eram consideradas extremamente invasivas extremamente violentas para aquelas pessoas elas percebiam com
uma transformação no corpo que não tinha nenhum problema esse corpo só tinha problema dentro da nossa perspectiva é ter normativa e etc né mães dentro da Perspectiva da própria pessoa não então é dessa maneira quer dizer a gente escuta o que aquelas pessoas têm a dizer e tenta então desenvolver eh políticas públicas nesse sentido eu costumo dar como exemplo o caso da covid né quando se quando a covid surgiu e começaram a se pensar protocolos para distribuição de bens públicos eu não sei se vocês se lembram mas é os protocolos eles partiam de quem partiu
dos Profissionais de Saúde entre parentes médicos porque a gente sabe perfeitamente que entre Profissionais de Saúde que tomam com poder de decisão que nós temos é o médico mesmo né quer dizer os outros profissionais da equipe ficavam totalmente alejados na maior parte das vezes do processo desses olhos quem é o objeto dessas políticas públicas é o indivíduo que que recorre ao SUS né quer dizer como é que ele pode não ser ouvido dentro desse processo né como é que eu posso estabelecer o que que é uma pessoa com um grau X de comorbidade se quem
faz medicina no Brasil são geralmente pessoas que são de uma classe média alta né e que não tem o contato com a precariedade das vindas de grande parte dos brasileiros né então o que eles percebem como uma comorbidade para essas pessoas que já passaram por não ter o que comer já passaram pelos mais diversos tipos de doença vivem em ambiente totalmente insalubres essas comorbidades não fazem menor sentido né e Eles teriam sim caso recebesse auxílio chances de sobreviver né então eu acho que é o caso da convite para mim é emblemático de como a sociedade
não está aberta para escutar o como solucionar os problemas no caso por exemplo da vacina né Os Protocolos de vacina né então o morador de rua ele tinha que obedecer ali a faixa etária dele gente Sinceramente você vai dizer para o morador de rua Ah não volta no próximo mês porque você ainda não tá na idade não vai voltar nunca então a gente vê que na verdade muitas vezes o modo começa as decisões são tomadas são modos que favorecem os mesmos grupos que estão aí para garantir os privilégios que já foram garantidos né e para
que nada se modifique eu acho que enquanto nós ficarmos detidos a esse modelo do pensamento ocidental e o eu acho que a gente não vai conseguir gerar políticas públicas adequadas para nossa sociedade mas assim para dar o exemplo da educação que para mim é bastante chocante né Nós temos um modelo Educacional que privilegia dos focos né disciplinares né as disciplinas padrão né O que que os nossos alunos aprendem eles aprendem matemática e aprendem português né No meu tempo é nós temos aula de artes projeto educação corporal né milhões de coisas né cada vez mais essas
outras opções didáticas elas são colocadas à margem em nome de um melhor aprendizado de um tipo de conhecimento formal né que belos moldes da racionalidade abstrata né desenvolvida modelo cartesiano nós temos uma sociedade onde muitos indivíduos possuem inúmeras habilidades corporais e artísticas que são totalmente desprezadas nas escolas onde eles frequentam né e habilidade que se fossem desenvolvidas ganha garanteriam a esses indivíduos uma posição social muito mais compatível não apenas com a sua com as suas identidades mas também com o que eles podem trazer de relevante para a sociedade né então que numa mesma escola uma
criança seja Obrigada se ela é tem dons musicais ou se ela tem dons ela tem uma capacidade de dançar ela seja obrigada a colocar isso de lado em nome da matemática eu diria que é uma escola que simplesmente não tá servindo aquela criança porque porque dificilmente ela em função do contexto em que ela vive ela vai querer se apropriar daquele conhecimento matemático para fazer muita coisa na vida dela ao passo que aquelas outras capacidades que estão sendo ali abafadas nela poderiam permitir uma forma de vida extremamente produtiva produtiva no seguinte de que florescesse podia fazer
com que aquele indivíduo florescesse fosse aquilo que ele verdadeiramente gostaria de ser então isso mostra o como é importante o pensamento de Colonial para fazer a crítica desse modelo e para permitir que as nossas crianças sejam excelentes sambistas né excelentes dançarinos ao invés de Engenheiros isso tem valor social e nós precisamos investir Nisso porque é nisso que elas querem Florescer e a nossa sociedade só vai Florescer quando seus membros florescerem né E os seus membros não são médicos professores Engenheiros mas são muito mais do que isso isso mostra o quanto políticas desse tipo são fundamentais
pra gente de fato ter uma sociedade que seja mais inclusiva que seja mais diversa e onde cada um tem o seu lugar social mais reflexões no site e Facebook do Instituto CPFL e no canal do Café Filosófico no YouTube e a gente não estabelece no âmbito da moralidade e hierarquia entre seres a violência a um animal não humano ela se torna um assunto tão importante no âmbito da moralidade quanto a violência entre os próprios seres humanos [Música]