“Nada em biologia faz sentido exceto à luz da evolução”, foi o que disse Theodosius Dobzhansky. E essa é, sem sombra de dúvidas, uma das frases mais emblemáticas dentro das Ciências Biológicas. A teoria da evolução é, até hoje, um dos pilares fundamentais da biologia moderna.
Sem ela, a trajetória da vida na Terra não faria sentido. Essa teoria revolucionária nos deu uma excelente base para podermos entender como as espécies se originaram e se transformaram ao longo do tempo. A Evolução se baseia na ideia de que as características das populações de seres vivos mudam gradualmente de geração em geração, devido a uma série de mecanismos e processos naturais, como a seleção natural.
“Ah mas a Evolução é só uma teoria! ” TÁ ERRADO! Sabe aquele negócio de que a luz é tanto onda quanto partícula?
Pois é, da mesma forma, a Evolução tanto é teoria como também é FATO! Eu sei, eu sei. Isso pode parecer um paradoxo, mas faz total sentido quando entendemos o que essas palavras significam no contexto científico.
É que a "teoria da evolução" é a explicação científica que descreve como as espécies mudam ao longo do tempo. Ela diz que a diversidade de vida na Terra é o resultado de processos como seleção natural, mutação, deriva genética e migração. Charles Darwin e Alfred Wallace são amplamente conhecidos por suas contribuições a essa teoria.
Basicamente, ela é um “conjunto de explicações” que engloba uma vasta quantidade de evidências de várias áreas da Biologia. Agora, a Evolução como fato refere-se à observação de que as espécies mudam ao longo do tempo. E temos uma enorme quantidade de evidências científicas que demonstram que as populações de organismos vivos se transformam e se adaptam ao longo das gerações.
Isso é observado em estudos de fósseis, genética, biogeografia e anatomia comparada, por exemplo. Não há dúvida de que as espécies evoluem. Até mesmo quando vemos bactérias criando resistência a antibióticos por meio de mutação, conseguimos ver um breve lampejo da Evolução e todo o seu potencial.
A razão pela qual a evolução é considerada tanto uma teoria quanto um fato é que a "teoria da evolução" é a explicação científica que tenta compreender e descrever o "fato da evolução". A teoria fornece o conceito e uma base explicativa sólida para entender COMO a evolução ocorre. Mas existe uma questão um tanto quanto errada no que diz respeito à Evolução.
Eu tenho certeza que quando você pensa nesse assunto, você pensa nessa foto aqui: Pois é, essa é uma das representações mais comuns sobre o conceito de Evolução. E também é uma das mais INCORRETAS! Ela resume bem o que há de mais ERRADO em toda a evolução!
Vamos analisar essa imagem com um pouco mais de atenção. O erro aqui tá na ideia de que a evolução é um fenômeno biológico LINEAR, quando na verdade é muito mais complexo que isso. Até porque seria bem bizarro se nossos ancestrais primatas tivessem perdido seus pelos e virassem bípedes em gerações tão curtas.
Na verdade, isso é simplesmente impossível. Algumas estimativas dizem que o processo evolutivo da espécie humana tenha levado pelo menos cerca de seis milhões de anos. Tudo isso pra gente ter que pagar pra beber água.
. . Queria voltar a ser macaco.
Então a questão aqui é a seguinte: Evolução e Progresso não são a mesma coisa. Sei que no dia a dia a gente acaba usando elas como sinônimos, e ok não faz mal nenhum. Agora em um contexto biológico e científico, é muito importante que a gente não confunda essas palavras.
É fundamental entender que a evolução não é um processo com direção ou intenção. Na verdade é uma consequência da interação entre as características dos organismos com o ambiente ao seu redor, que está em constante mudança. As populações de seres vivos se adaptam ao longo do tempo e a pressões seletivas específicas, o que pode resultar em mudanças em suas características.
Porém essas mudanças não estão necessariamente relacionadas a uma ideia de "progresso" em direção a uma forma mais avançada ou ideal. A evolução é um processo super ramificado e diversificado. Então, ao invés de uma linha reta em direção a uma forma “perfeita”, o que acontece é que as espécies evoluem em uma série de trajetórias adaptativas, muitas vezes independentes umas das outras.
E essas trajetórias são impulsionadas por fatores como seleção natural e mutações, por exemplo. Tá mas e aí, o que acontece? Bom, o que acontece é que isso resulta em uma grande variedade de formas de vida, gerando novas espécies e novas soluções adaptativas, dependendo dos ambientes em que essas espécies vivem.
Até porque, se pararmos para pensar, aquilo que é considerado uma adaptação bem-sucedida em um ambiente pode ser totalmente inadequado em outro. Uma característica que melhora a sobrevivência e reprodução de um organismo em um contexto pode ser desvantajosa em outro. Se colocarmos um pinguim em uma savana, ele não vai durar nem duas horas, coitado.
Da mesma forma aconteceria se a gente colocasse uma hiena no polo sul. E isso também nos mostra que não existe um padrão de "melhoria" na evolução, mas sim uma complexa rede de relações entre características e ambientes. A evolução não visa um estado final.
As adaptações não surgem com um propósito ou uma finalidade. Elas são respostas ao ambiente! Então é por isso que a ideia de um progresso linear não é apenas simplista, como também bem equivocada.
Mas, além disso, tem uma outra coisa nessa imagem clássica que está errada e que passa despercebida por muitas pessoas. Algo que vai além da teoria da Evolução, que se relaciona com a face mais falha da sociedade humana. Vou dar um tempinho pra você adivinhar.
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Agora… você já percebeu algo de estranho aqui nessa imagem? Essa representação da evolução humana saindo de seres humanos mais escuros e “primitivos” para seres humanos mais “evoluídos” com um tom de pele mais claro, não é apenas incorreta, mas também profundamente problemática e carregada de um viés racista. Portanto, o erro aqui está de novo naquela ideia errada de progresso, e pior ainda, associar esse progresso à pele branca.
E isso serve como ferramenta pra que algumas pessoas acreditem que o embranquecimento é o ápice da evolução, o que na realidade não tem absolutamente nada a ver. Pra que a gente possa compreender a VERDADEIRA relação entre a pigmentação da pele e a evolução, é fundamental prestar atenção no contexto evolutivo em que essa característica surgiu. Levando em conta algumas questões como a diversidade genética e ambiental, que foi responsável por moldar as variações de cor da pele em seres humanos.
Em primeiro lugar, a pigmentação da pele é uma característica altamente variável e adaptável em populações humanas. Afinal, não é à toa que nossa espécie possui uma diversidade tão grande de tons de pele. Além disso, o surgimento de tons mais claros na nossa espécie é uma característica relativamente recente, tendo surgido há aproximadamente quarenta mil anos, em populações do noroeste e nordeste da Eurásia.
Ou seja, historicamente, o tom de pele mais escuro predomina desde os primórdios da nossa espécie. E até os dias de hoje ainda é maioria. Estimativas não conseguem definir ainda um percentual preciso da população branca atual, mas elas variam entre seis vírgula cinco a onze por cento, ou seja, mal chega a um décimo da população humana.
No contexto biológico e evolutivo, a cor da pele humana é, em grande parte, uma resposta à necessidade de proteção contra os danos causados pela radiação ultravioleta dos raios solares, os famosos raios UV. Em regiões com alta intensidade de radiação UV, como regiões próximas ao equador, a seleção natural favoreceu a presença de pigmentação mais escura. Já que é na pele escura que há uma maior quantidade de melanina, o pigmento responsável pela cor da pele, oferece uma proteção eficaz contra os raios UV, que podem causar câncer.
Já em regiões com menor exposição à radiação UV, nos países mais ao norte, a seleção natural permitiu uma maior frequência de pele mais clara. Isso ocorre porque, apesar dos raios UV fazerem mal em excesso, a falta deles também faz mal. O nosso corpo precisa receber raios UV pra produzir vitamina D, e a melanina atrapalha isso, porque ela nos protege da radiação.
Então em lugares que já possuem naturalmente pouca radiação solar, a melanina não teria do que nos proteger e ainda iria causar um problema de pouca produção de vitamina D. Por isso que nesses lugares surgiu uma pele com menos melanina, o que resultou numa pele branca! E é muito importante enfatizar que esse fenômeno não garantiu nenhum tipo de melhoria adaptativa de uma pele em relação a outra.
Não há NENHUMA base científica que apoie a ideia de superioridade de um tom de pele em relação a outro. Essa concepção é uma interpretação preconceituosa que não tem fundamento na biologia evolutiva. A diversidade de tons de pele em seres humanos é um testemunho da riqueza da nossa história evolutiva e da nossa capacidade de adaptação a diferentes ambientes.
E deve ser reconhecida assim, esse deve ser seu único juízo de valor. É por isso que essa representação da pele branca como ápice da evolução humana distorce o entendimento correto do processo evolutivo. E talvez pior ainda, também perpetua inúmeros preconceitos raciais, como a associação das pessoas negras à macacos.
Reconhecer que a cor da pele é resultado de uma complexa interação entre genética, ambiente e história evolutiva é um passo importante na luta contra o viés racista e na promoção da igualdade e respeito na humanidade. Até porque essa desigualdade acontece não apenas em relação a cor da pele, mas até mesmo ao sexo biológico. A teoria da evolução, como originalmente desenvolvida por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace, tendeu a enfatizar características e comportamentos relacionados ao sucesso reprodutivo e à competição entre organismos masculinos.
Ou seja, focou só nos homens. Tanto é que muitos dos exemplos clássicos da teoria da seleção natural estão relacionados a comportamentos de acasalamento, competição por parceiros e características morfológicas específicas em machos. Como as plumagens brilhantes de aves ou os chifres de cervos.
Na década de quarenta, o biólogo J. B. S.
Haldane disse que a taxa de mutação genética em micróbios é muito maior na linhagem masculina do que na linhagem feminina. Desde então, os geneticistas passaram a atribuir um peso maior aos homens nas mudanças evolutivas que ocorreram desde que os ancestrais humanos partiram dos chimpanzés. Mas temos que concordar que atribuir o mesmo nível de complexidade da mutação genética de germes à humanos é no mínimo um salto lógico grande.
Além do mais, essa abordagem negligenciou MUITO a riqueza de adaptações que evoluíram no corpo feminino. Ignorar essas adaptações femininas significa ignorar METADE da história da evolução humana, além das complexas interações entre os sexos. E com todo esse foco nos “Adões” evolutivos, fica um questionamento: E as “Evas” da Evolução quem foram?
Em seu livro “Eve”, Cat Bohannon descreve como o corpo feminino conduziu pelo menos duzentos milhões de anos de evolução humana. A escritora e doutora em Evolução da Narrativa e da Cognição, propôs uma complementação à nossa visão sobre a evolução humana, nos apresentando as diversas “Evas” que surgiram ao longo da história dos mamíferos. E isso é interessante, porque, além de toda uma nova contextualização, isso serve pra quebrar o viés de gênero no meio acadêmico.
Bonahonn questiona muito o fato de que, dos ratos aos humanos, é sempre o corpo masculino que é estudado em laboratório. Isso é, a menos que a pesquisa seja especificamente sobre partes exclusivas do corpo feminino, como ovários, úteros ou seios. Por isso ela decidiu escrever esse livro, pra criar um tipo de manual pra evolução humana em uma perspectiva feminina.
Afinal, as características que existem em um corpo feminino não surgiram do nada. Elas surgiram… Daqui: A jornada começou com essa fofura. Um mamífero muuito primitivo que ainda colocava ovos e era do tamanho de um camundongo.
Seu nome era Morganucodon, ou “Morgie” para os mais íntimos. Morgie costumava correr em busca de insetos e se esquivar dos gigantes dinossauros que dominavam o planeta. Há cerca de duzentos e cinco milhões de anos atrás.
E por que ela foi tão importante? Ela estava entre nossas primeiras ancestrais a alimentar seus filhotes com leite! Bom, não era exatamente o leite que conhecemos hoje, mas Morgie meio que “suava” gotas de um líquido cheio de água, açúcares e gordura para que seus filhotes bebessem.
Sua habilidade de produzir uma substância nutritiva para alimentar os filhotes era uma grande novidade para a época. Depois disso veio uma era muito polêmica: a era dos MAMILOS! Cerca de dez milhões de anos depois da Morgie, surge um ancestral dos marsupiais, como coalas e cangurus.
E agora, em vez de desperdiçar o leite produzido, os bebês passaram a se alimentar por meio de uma projeção no peito da mãe. Se alimentar através de mamilos desencadeia a liberação de hormônios como a prolactina e oxitocina no cérebro materno. Fazendo com que ela produza leite ao mesmo tempo que fortalece o vínculo com seu bebê.
Por isso que, uma vez que essa característica apareceu, ela se manteve até os dias de hoje. Tempos depois, entrou em cena a "bisavó do útero", chamada de 'Donna'. Protungulatum donnae, a Donna, era do tamanho de um esquilo e é a provável ancestral de todos os mamíferos placentários.
Ela apareceu cerca de sessenta e seis milhões de anos atrás, milhares de anos após a extinção dos dinossauros. Dar à luz a filhotes vivos trouxe mudanças significativas no sistema reprodutivo e no sistema imunológico. Isso permitiu que os mamíferos mantivessem seus filhotes a uma temperatura constante ao transportar embriões em desenvolvimento dentro de seus corpos.
Além disso, sem a necessidade de ninhos, as fêmeas tinham mais tempo para buscar comida e proteger a si mesmas e seus filhotes contra predadores. Cerca de dois a três milhões de anos após a aparição de Donna, houve uma explosão na diversidade de mamíferos com placenta. Tudo isso é muito fascinante, mas as coisas ficam um pouco mais obscuras quando a autora fala sobre cérebro humano.
Existem diferenças reais entre os cérebros de homens e mulheres? Os sexos percebem o mundo de maneira diferente? Pra isso, Bohannon foi atrás de Purgatorius, o primeiro primata conhecido da Terra.
Uma mistura meio esquisita de esquilo com macaco, do tamanho de um rato e com uma cauda grossa. A 'Purgi' escalava árvores e comia frutas. Ela precisava de olhos que pudessem ver frutas maduras e ouvidos bons o suficiente para ouvir seus filhos em uma selva barulhenta, cheia de insetos e pássaros cantando.
Primatas como Purgatorius evoluíram para ouvir e produzir sons mais graves, “para eliminar a confusão sonora”. Hoje, os ouvidos dos homens estão, em média, mais bem sintonizados para tons mais baixos, enquanto os ouvidos das mulheres tendem a ser mais sensíveis aos tons mais altos, como o choro de um bebê. As mulheres também superam ligeiramente os homens nas capacidades olfativas e é pouco provável que sejam daltónicas para o vermelho e o verde.
Já que o gene do daltonismo está associado ao cromossomo X e, bem, elas têm dois deles. Assim, a capacidade de detectar frutas coloridas e doces e folhas verdes jovens teria beneficiado a fêmea do Purgatorius durante a gravidez e a amamentação. Da Purgi saltamos alguns milhões de anos até a Ardipithecus ramidus, a primeira Eva bípede, lá na África Oriental há quatro vírgula quatro milhões de anos.
Daí veio Homo habilis, a Eva das ferramentas, que surgiu por volta de dois vírgula quatro milhões de anos. E depois Homo erectus, a primeira Eva a deixar a África há cerca de um vírgula setenta e cinco milhões de anos. A cada fase da evolução, uma série de mudanças morfológicas, mas além disso, uma história única de adaptação e sobrevivência.
E é por elas, pelas Evas da nossa evolução, que precisamos contar essas histórias, garantindo que nós possamos aprender sobre a nossa história evolutiva como um todo! E não só uma parte. Mas calma, a culpa não é nossa de termos essa perspectiva.
Nós apenas recebemos as informações dessa forma e acabamos reproduzindo de novo e de novo… Você provavelmente já ouviu falar sobre o 'Homem Caçador'. Pois é, essa é uma teoria bem famosa que propõe que a caça foi um dos principais impulsionadores da evolução humana e que os homens teriam sido os responsáveis por essa atividade, enquanto as mulheres cuidavam das crianças e das tarefas domésticas. A partir dessa ideia, seria inevitável pressupor que os homens são fisicamente superiores às mulheres e que a gravidez e a criação de filhos limitam a capacidade de caça de uma mulher.
Essa ideia do Homem Caçador dominou o estudo da evolução humana por quase meio século, sendo amplamente difundida na nossa cultura popular. Ela é representada em filmes, obras em museus, livros didáticos e desenhos animados. Mas essa questão também é equivocada.
Essa teoria ganhou destaque em mil novecentos e sessenta e oito, quando os antropólogos Richard B. Lee e Irven DeVore publicaram 'Man the Hunter', uma coleção editada de artigos acadêmicos sobre sociedades caçadoras-coletoras contemporâneas. Só que naquela época, a sabedoria popular e convencional era de que as mulheres eram incapazes de completar uma tarefa fisicamente exigente e que tentar fazê-lo poderia prejudicar suas preciosas capacidades reprodutivas.
Os acadêmicos que seguiam a “doutrina” do Homem-Caçador se baseavam em suas crenças pessoais sobre as capacidades físicas limitadas das mulheres. Ou seja, era uma teoria extremamente tendenciosa pela época em que foi disseminada. Esse viés esteve presente em grande parte das pesquisas em fisiologia do exercício, paleoantropologia e arqueologia.
Até porque, historicamente, foram por muito tempo pesquisas conduzidas por homens e PARA homens. Por exemplo, Ella Smith e seus colegas da Universidade Católica Australiana descobriram que em estudos de nutrição e suplementação, apenas vinte e três por cento dos participantes eram do sexo feminino. Em outros estudos que focavam no desempenho atlético, Emma Cowley da Universidade da Carolina do Norte e seus colegas descobriram que apenas três por cento das publicações tinham participantes exclusivamente do sexo feminino.
Enquanto que sessenta e três por cento das publicações analisavam exclusivamente homens… que coisa, não? Essa diferença significa que até hoje ainda sabemos muito pouco sobre o desempenho atlético, treinamento e nutrição próprio ao organismo feminino. Atualmente essas suposições enviesadas ainda persistem, seja na literatura científica ou na consciência coletiva de uma parte da população.
No entanto, cada vez mais novas pesquisas apontam para um novo senso comum sobre as evidências fisiológicas e arqueológicas sobre o real papel da mulher na evolução humana. Rui Diogo é professor associado da Universidade de Howard, atuando no Centro de Estudo Avançado da Paleobiologia Hominídea. Em um artigo publicado no site The Conversation, ele nos mostra que o viés pessoal aplicado na Ciência existe há muito tempo.
Na verdade, desde os primeiros cientistas ocidentais, incluindo figuras como Aristóteles na Grécia antiga, há uma influência de narrativas etnocêntricas e misóginas no pensamento científico da sociedade da época. O próprio Charles Darwin, tem seu viés pessoal muito bem destacado em suas obras. No livro “A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo” de mil oitecentos e setenta e um, Darwin enche a boca pra falar sua crença e convicções bem preconceituosas pra nós do presente.
Darwin fala que os homens são evolutivamente superiores às mulheres, que os europeus são superiores aos não-europeus e que as civilizações hierárquicas superam as pequenas sociedades igualitárias. Além de chamar algumas culturas de subdesenvolvidas e comparar a aparência de africanos ao macaco do Novo Mundo Pithecia satanas. Darwin, apesar de suas contribuições revolucionárias para a biologia, tinha suas próprias concepções limitadas e preconceituosas.
Darwin hoje certamente seria cancelado no Twitter …ou X. E a pior parte é que, mesmo com as mudanças sociais significativas que ocorreram nos últimos cento e cinquenta anos, as narrativas sexistas e racistas ainda são comuns na ciência, na medicina e na educação. Rui Diogo mostra que muitos materiais educativos, incluindo livros didáticos e atlas anatômicos usados por estudantes de ciências e medicina, acabam perpetuando as narrativas tendenciosas.
Por exemplo, a edição recentíssima de dois mil e dezessete do “Atlas Netter de Anatomia Humana ” inclui quase duzentas figuras que mostram a cor da pele, sendo que apenas dois apresentam indivíduos com pele “mais escura”. Para alguns isso pode parecer uma coisa banal, mas essa falta de representatividade tem uma série de impactos que vão muito além do meio acadêmico ou científico. Não podemos nos esquecer que estamos falando sobre um aspecto social também.
E isto perpetua a representação do homem branco como um padrão, uma representação anatômica ideal, deixando de lado toda a diversidade anatômica presente na espécie humana. Segundo Diogo, essa é uma das principais ferramentas do racismo e do sexismo sistêmico. O fato de ser perpetuado inconscientemente pelas pessoas, sem que elas percebam que as narrativas que seguem e escolhas que fazem, são tendenciosas.
Os acadêmicos e cientistas têm, não só o poder, mas o dever de abordar os preconceitos racistas, sexistas enraizados em suas respectivas áreas. Inclusive podem fazer isso sendo mais alertas e proativos na correção destas influências no seu trabalho. Por que permitir que essas narrativas imprecisas continuem a circular na ciência, na medicina, na educação e nos meios de comunicação, perpetua não só as narrativas por si só.
Mas também a discriminação, a opressão e as atrocidades que foram justificadas por elas no passado. No entanto, o poder da ciência reside na sua capacidade de autocorreção. A ciência é um processo em constante avanço.
Baseado em observações, experimentação, debate e revisão de resultados. À medida que a sociedade avança e novas informações se tornam disponíveis, as ideias científicas podem ser aprimoradas, revisadas ou até mesmo descartadas, se necessário. Isso sempre aconteceu na ciência e espero que continue acontecendo.
O “viés” presente na ciência é um tema crítico que tem afetado a prática científica ao longo da história. A ciência, embora seja um empreendimento objetivo e baseado em evidências, é realizada por seres humanos, e como tal, carregam vieses, preconceitos e discriminações próprios. Para avançar na direção de uma ciência mais justa, inclusiva e precisa, é essencial reconhecer e combater esses vieses.
Tudo isso que falamos até agora nos leva a uma conclusão: Não é bem a Evolução que está errada, mas a forma que nós falamos sobre ela. Apesar de que, historicamente, tenhamos criado na sociedade uma tendência de ver a Ciência de forma perfeita, ela não é isenta de falhas. Pelo contrário, ela já errou, erra e vai errar até o fim dos tempos.
O que faz a ciência ser tão incrível não é a sua aura de estar sempre certa, mas o fato de ser capaz de perceber quando está errada. É óbvio que temos e MUITO o que agradecer à Ciência, isso jamais deve ser questionado. Só que a forma que a ciência é feita é sim, muitas vezes questionável.
Ela não é isenta de erros e falhas porque, afinal, ela é feita por pessoas. E pessoas são falhas, pessoas erram e vão continuar errando. Mas eu acredito que uma das nossas maiores virtudes enquanto seres humanos está justamente no aprendizado, na superação.
Cabe a mim e a vocês, cientistas ou não, lutar por uma ciência mais igualitária, em que todas as vozes serão ouvidas. Em que toda história será contada. Devemos lutar por uma ciência livre de qualquer viés que agrida a representatividade e tire a dignidade do próximo.
A Ciência não é, e nunca foi, sobre exclusão. Talvez ela tenha sido uma das ferramentas mais inclusivas já desenvolvidas pela nossa espécie, e é por isso que não podemos deixar de apontar quando ela está indo contra seus próprios princípios. Não podemos deixar de acreditar em um mundo melhor.
Quem sabe a missão da nossa próxima Eva, seja salvar a humanidade de um entendimento incompleto e até errado da evolução!