Filme "Antropólogos"

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APA Associação Portuguesa de Antropologia
Versão exibida no VI Fórum da APA (1 de outubro de 2016 no Museu Nacional de Etnologia). Realização:...
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na sua definição mais larga a antropologia é o estudo da condição humana tenta compreender a maneira como as pessoas vivem no mundo descoberta do outro e de comunicação desse maravilhamento e Dessa descoberta é uma forma de olhar a realidade de inquirir o presente de desvelar esta natureza cultural e portanto Provisória é uma maneira de de estar no mundo de estar com os outros mais do que um conceito teórico abstrato foi o trouxe um conjunto de ferramentas muito importantes um uma disciplina que nos permite a estudar os processos de construção social da diferença ensina a tornar
aquilo que é estranho em familiar e aquilo que é familiar em estranho ciência tenta perceber o ser humano não é uma uma vertente diferente da sociologia ou da Psicologia mas tenta realmente perceber o que é que são as pessoas e como é que ela o Fascino das pessoas que nós enquanto antropólogos estudamos as [Música] pessoas nas suas relações umas com as outras e na maneira como elas vivem o mundo eu eu escolheria três palavras chave para definida a antropologia a diferença a pessoas e e e Conexões [Música] a definição mais larga a antropologia é o
estudo da condição humana h e nesse sentido a antropologia tem tido a um desencontro consigo própria durante muito tempo por virtude dessa grande oposição que estruturou o século XX entre e o o natural e o cultural o individual e o grupal e estas polaridades ligadas à velha polaridade mente corpo ah criaram uma condição em que a antropologia enquanto disciplina e ligada mais social ia por um caminho e antropologia encontro disciplina ligada mais ao físico ia por outro hoje estamos a ver uma mudança muito profunda nisso e então eu não queria falar tanto no que antropologia
não pode ser mas no que antropologia vai ter que ser e vai ter que reencontrar essa sua raiz enquanto uma disciplina que estuda a condição humana na sua generalidade e essa condição é uma condição incorporada uma uma condição é material e e e e essa interligação eh vai ser o grande desafio do século XX ajuda-nos a perspectivar portanto nesse sentido para mim antropologia é uma ética é é uma é uma maneira de é uma ferramenta para me eh poder e colocar dentro uma determinada situação e tentando por exemplo não não ir buscar e os clichês
aquilo que toda a gente parece pensar sobre a maneira como o outro é visto e tentando mudar um bocado o paradigma a maneira de olhar para o mundo e pensar um bocado de outra maneira e a antropologia ajudou-me e continua me ajudar muito a fazer isso assim como há pessoas que se entusiasmam pela cozinha ou há pessoas que se entusiasmam pelo desporto eu acho que há um lado de possível entusiasmo pela antropologia como uma forma de fazer e e eu acho que isso é muito específico da antropologia por comparação com outras e Ciências Sociais e
humanas eh e normalmente gosto de pensar ou pelo menos é o que digo aos alunos que que é a ciência a disciplina a prática que ensina a tornar aquilo que é estranho em familiar e aquilo que é familiar em estranho basicamente são estes dois movimentos const que nós fazemos e e que precisamos muito como pessoas e seres humanos Mas também como como sociedade quer ao nível local qu ao nível Global foros um conjunto de instrumentos para analisar criticamente o mundo à nossa volta como é que ele é de certa maneira não tanto essencialmente como é
que a diferença é resulta de uma dimensão processual de uma dinâmica h e portanto para mim a antropologia é um instrumento que me permite precisamente pensar essas dinâmicas de construção social da diferença e quer seja ela Auto atribuída seja etro atribuída seja por via de lógicas de dominação e de resistência e seja por via de lógicas dominação associada ao colonialismo ao racismo por aí h e para mim a antropologia é precisamente um um campo disciplinar que me permite ter os instrumentos para olhar todos estes processos na contemporaneidade e na história nesta minha visão Da da
antropologia está inerente uma ideia de que para fazeres antropologia Tens que ter eh um trabalho etnográfico uma maneira de con de construir este conhecimento através da da de estares com as pessoas de conversar com elas de viver a vida eh que elas vivem no fundo uma partilha de experiência vivida Eh que que no fundo está na na na base de uma melhor compreensão eh dessa dessas formas de de de viver o mundo justamente pela sua própria natureza deve ser uma uma ciência que consegue pôr em diálogo o academismo e o não academismo e muitas vezes
infelizmente a antropologia não consegue fazer isso antropologia não pode ser romance não pode ser contar história E isso também é um lado que eu percebo que muitas das vezes outras disciplinas não conseguem que é Ou são muito Secos e por exemplo se usam estatística se usam às vezes até etnografia sem teoria fica tudo ou ou ou muito abstrato ou então historieta é preciso contextualizar as coisas é preciso dar-lhes alguma profundidade teórica mas mas também é preciso estar perto das pessoas poria tem um seu saber próprio uma sua capacidade de aproximação a experiência o mundo da
experiência de compreensão mais íntima mais intensa mais engajada de alguma forma das dos Mundos dos diferentes mundos locais o que não é antropologia curiosamente para mim a antropologia não é etnografia acho que de alguma forma certo tipo de perspectiva dos últimos decênios que aproxima muito a antropologia o trabalho do campo está enfraquecer a antropologia a etnografia é um método ainda por cima não é um método exclusivo da antropologia como bem sabemos e se com certeza eh o trabalho do antropólogo é é fazer pesquisa de terreno ao mesmo tempo deve manter a sua capacidade de criar
conexões de generalizar isso é de comparar ou de encontrar respostas que também e sem perder as diferenças também tem a ver com semelhanças como uma forma de pensar comum dos seres humanos eu lembro uma frase de wittenstein que dizia se um leão pudesse falar nós não compreendíamos porque o seu mundo da experiência é demasiado instante do meu é uma ciência feita sobre uma experiência vivida é uma é é a maneira do antropólogo usar a sua própria disposição para ser homem para ser pessoa no sentido mais genérico da palavra como forma de recolher material científico eu
considero a antropologia paciência e Considero que é essa a justificação da sua existência prudentemente nós estamos todos neste barco complicado nestes últimos anos não é portanto esperemos que agora as coisas melhorem um pouco há alguns sinais disso não sabemos o que é que vai acontecer não é agora eu penso que de um modo geral a antropologia vai continuar a ser uma ciência importante em Portugal dentro das Ciências Sociais e que e eu acho também que que a antropologia mesmo assim com todos os altos e baixos tem conseguido ter uma afirmação no terreno tem conseguido ter
uma formação na socidade Portuguesa e em que por exemplo há 30 anos atrás se a pessoa se formava em antropologia tinha como solução ou como via de trabalho e dar aulas não é ou ou ou ir para os poucos institutos de investigação e um pouco mais hoje em dia eu acho que mesmo assim há mais possibilidades para os nossos estudantes para as pessoas que acabam trologia consegue-se arranjar alguns trabalhos a nível local Regional e há um há um investimento em museus que não existia também há 30 anos atrás há um investimento também em projetos como
sabemos que não existia hos anos atrás e apesar pronto estes anos difíceis eu tenho esperança eu vejo como uma ciência que que pode e deve marcar o seu espaço na sociedade Portuguesa no mundo cada vez mais em em que a mobilidade humana é exponencialmente crescente pelas razões mais diversas H num mundo em que essa mobilidade corresponde também a uma convivência cada vez maior entre pessoas com pessoas diferentes pessoas que vêm de sítios diferentes que têm expectativas sobre a vida e sobre o futuro e sobre a sua e sobre a existência diferentes umas das outras e
que estão em contacto inevitavel ou seja idealmente o futuro da antropologia teria de ser muito promissor porque justamente é um olhar uma que nos permite compreender melhor este mundo contacto com em que o diferente está em contacto permanente de uma forma mais preparada que outras áreas disciplinar Digamos que idealmente seria assim eu acho que que nada é eterno mesmo poia mas eu acho que o futuro Daia pelo menos a curto médio prazo penso que está assegurado mas há desafios vários Desafios que vê de fora da anologia e desafi que vem dentro da antropologia e alguns
desses desafios são desafios barra vamos dizer assim alças de Fora aquilo que eu noto é sobretudo em confronto com a situação 20 30 anos uma conjuntura que é desfavorável não apenas à antropologia particular mas à ciências humanas e sociais de vários pontos de vista do ponto de vista do financiamento que é um financiamento que se tem vindo a reduzir e que ultimamente é um financiamento por objetivos e portanto eh que inclui um conjunto de coisas mas exclui um conjunto de outras coisas eh recentemente por exemplo o financiamento europeu ten at trabado uma condição que é
uma condição que é muito restritiva para a antropologia que é o facto da pesquisa que se tem que desenrolar na Europa e portanto é um bocado a lógica da da da Europa Fortaleza ao nível científico mas outras ameaças por exemplo o panorama editorial não é tão favorável Como já Como já foi claro que há novas oportunidades publicação online mas é cada vez mais difícil a publicação sobre forma de de livros as próprias condições na universidade sobretudo noos últimos 4 C anos digamos não t sido muito favas E mais uma vez não é um problema só
Português é um problema que se encontra em vários países portanto H há de facto uma conjuntura desfavorável às ciências humanas sociais e também à antropologia temos vindo a a constituir um grupo de de pessoas de jovens investigadores muitíssimo bem preparados com imensa vontade de de fazer investigação e a fazer-la investigação em condições às vezes muito difíceis Porque sem financiamento a trabalharem simultaneamente mas a fazerem pelo gosto e pelo gosto a investigar e em construir a eh essa essas pesquisas e que têm vindo a constituir de facto um um campos de de de pesquisas antropológicas da
daquilo que é o Portugal contemporâneo e de imensa qualidade e nós temos visto a multiplicação de teses de de Mestrado teses de doutoramento de de jovens pós de pós doutorados a fazer as suas investigações de facto constituindo aqui um um um um um conjunto de trabalhos de de grande qualidade e portanto se fosse por aí eu não estaria nada preocupada com com o futuro da antropologia em em Portugal h e mesmo um um outro aspecto que que não que não tinha referido ainda que era da antropologia feita em português não é da da de estos
a ver também cada vez mais que não havia há umas Décadas atrás uma uma vontade crescente de de de investigadores a fazerem trabalho de de Campo fora de de Portugal e e isso é muito enriquecedor também para para a antropologia Portuguesa ou para antropologia em em português se calhar já não faz muito sentido hoje em dia falar de Antropologia portuguesa gostava de pensar que não Claro que eh a antropologia que se faz em Portugal eh mas também há muito antropólogos a fazer antropologia fora não é e antropos estrangeiros a trabalhar em Portugal eu agora quando
fiz um trabalho sobre o Fado eu era a única investigadora a trabalhar sobre o Fado português havia uma uma checa uma uma belga e portanto Aliás na no sítio onde eu estava a fazer trabalho de campo que era uma escola de Fado havia uma mesa já para os antropólogos portanto aquilo já era e era uma escola pequena em marvila não era sequer assim um sítio e e portanto eh o Fado tendo entrado neste neste circuito internacional de o património material também chama a atenção e como o Fado outros elementos e portanto a antropologia quando falamos
de Antropologia portuguesa estamos a falar de quê de Antropologia feita por antropólogos portugueses ou feita em Portugal eh acho que já hoje em dia já não não portanto a perspectiv a minha perspectiva é que a antropologia eh cada vez mais é cada vez mais global que temos a ganhar com isso eu acho que é fundamental a relação entre a história e a antropologia em primeiro lugar H porque precisamente Ela nos permite a história permite-nos ver a articulação entre a história e antropologia permite-nos ver precisamente a forma como os contextos se transformam e portanto permite precisamente
questionar as visões essencial e naturalização e naturalizadas da diferença uma outra área que eu acho que é importante ou em relação à qual eu acho que a antropologia ou com a qual a antropologia devia dialogar é a economia política hã acho que é absolutamente fundamental perceber Como é que os nossos interlocutores vem o mundo na relação com forças económicas e políticas mais vastas que os rodeiam H porque daí nós percebemos precisamente como H percebemos o contexto das escolhas e das opções e dos constrangimentos que rodei os nossos Inter dror da sua vida a antropologia tem
esta tradição não é de relacionamento com com outros saberes eh mais clássica com a sociologia com a história mas mas com com com muitas outras disciplinas e eu acho que temos muito muito a ganhar com isso nós aqui por exemplo no setor de património cultural somos historiadores sociólogos e antropólogos e e de facto acabamos por trabalhar todos em conjunto e cada um dando a sua perspectiva mais da sua disciplina mas mas trabalhando em conjunto e acho que de facto é é sempre uma mais valia é sempre uma mais valia fal por exemplo da publicidade a
publicidade é uma área em que noutros países os antropos estão de facto a ser muito aproveitados em Portugal ainda não há muito essa essa cultura mas mas pode de facto ser um caminho porque a questão do de o interesse que a publicidade tem em perceber hábitos de consumo mas não só hábitos não é próprios hábitos das pessoas a forma como as pessoas vivem e os antropólogos são as pessoas mais Preparadas para fazer esse esse tipo de de trabalho não é um trabalho que se vai lá duas vezes a cada olha o que é que a
senhora come o que é que a senhora Vesta não é um trabalho que as pessoas têm que estar lá têm que observar as próprias pessoas muitas vezes não têm consciência não é de não te vão dizer o que é que fazem tu tens que estar lá e tens que ver e portanto nesse aspecto os antropólogos há uma série de de de áreas que os antropólogos podem de facto explorar e que não estão exploradas e que me parece que que temos todos a ganhar trabalho em equipa nem o questiono porque ele é o dia a dia
já já já h muito tempo com várias áreas as ciências do ambiente a geografia a arqueologia a história a sociologia arquitetura também portanto são todos estes profissionais estão hoje presentes no território e aliás eh produzem por vezes muito mais informação sobre as comunidades e a cultura as culturas locais do que a própria antropologia portanto esses diálogos têm que existir cada vez mais e o antropólogo Não não pode ver-se como um indivíduo isolado na prática etnográfica Portanto o exercito da prática etnográfica É também um trabalho de negociação nestes nestas equipas pluridisciplinares que estão a a ser
constituídas a cada momento para a intervenção junto da da da das culturas a relação com outras disciplinas é sempre enriquecedora portanto eu acho que este tipo de trabalhos são necessariamente ou tem de ser seriamente trabalho de equipa e portanto se houver abordagens diferentes são enriquecedoras para aquilo que se pretende No fundo aqui que é dar que é dar à população queer dar ao público aquilo que melhor podemos fazer e portanto se houver várias abordagens creio que vai enriquecer essa abordagem portanto a nível pessoal as relações com outras disciplinas eu trabalhei com out pessoas de outras
áreas aqui ao longo das várias dos anos que ative e da investigação para o guião enfim para a pesquisa para as várias e Exposições que aqui fizemos pá trabalhamos com sociólogos com historiadores com arquitetos com padres com militares com mais diversa dirigentes associativos professores das várias áreas artistas plásticos portanto tudo isso a nível pessoal vai enriquecer a minha enfim vai me enriquecer enquanto pessoa e enriquece necessariamente o trabalho que aqui é feito eu acho cada vez mais nós nos estamos a a abrir ou a à à à à relação com outros com outros saberes e
eu acho que estamos cada vez mais a tirar Partio do da produção de equipas e multidisciplinares eh eu eu e do meu ponto de vista o trabalho por exemplo com as pessoas do mundo do cinema do mundo do documentário e do mundo das Artes trou trouxe-me se calhar uma uma uma forma de trabalhar e uma possibilidade de trabalhar que eu não teria se tivesse se calhar ficar fechada no território disciplinado não é hum acho que o trabalho em equipa é muito importante e para mim é é fundamental e e mas mas fica muitas vezes difícil
nós fazermos fazermos equipas não é porque é assim toda a gente sabe que os financiamentos que nós temos para as Ciências Sociais em Portugal são são muito paros não é e muitas vezes nós empancar com o não entendimento do que é que é o nosso trabalho não é o que é que é fazer trabalho de campo o que é que é passar um ou dois meses num lugar longino o que é que é eu precisar de estar lá sem obter resultados imediatos o que é que é este o que é que é o trabalho antropólogo
não é muitas vezes nós temos essa dificuldade de não encontrarmos e do outro lado de que quem de quem financia essa ideia de que os nossos resultados se calhar não são tão não são tão imediatos por isso eu acho que era muito importante e produzir talvez mais ainda mais contactos com outros com outros e equipas interdisciplinares só há conhecimento que seja ação essa noção de que nós temos o conhecimento que é uma coisa que a gente tem numas gavetas nos computadores e depois temos a ação e isso é epistemologicamente incorreto não não é não é
verdade todo o conhecimento à ação por isso eu sempre disse e Pode parecer que é disparatado dizê-lo assim mas eu sempre disse que é melhor antropologia aplicada é a boa antropologia Porque toda a antropologia é por si aplicada não e e e e nesse sentido eu creio que não temos que nos preocupar demasiado com a forma como o conhecimento que nós produzimos possa ou não interagir com o mundo temos que tomar em conta que ele vai sempre Inter e portanto essa dimensão Se quisermos uma mutualidade na produção do conhecimento etnográfico antropológico é uma dimensão fundamental
para percebermos o que é o conhecimento antropológico e a forma que também nos sai do corpo de certa maneira nos sai da nossa própria dimensão experiencial e subjetiva na relação com os outros acho que isso é bastante importante Ultimamente tenho estado a trabalhar em Israel e fazer pesquisa emel e e pronto e prefiro Recordar coisas boas do que coisas más também é zado eh mas num determinado momento isto tem muito a ver com a forma como nós trabalhamos com os nossos informantes ou colaboradores de pesquisa como se diz agora num determinado momento o a rede
de pessoas com que eu estava a trabalhar eh que são eh brasileiros judeus brasileiros que estão a começar a viver em Israel eh tornou-se numa rede de amigos há uma certa ambiguidade no trabalho não é pessoas de da mesma origem social que eu eh falarem a mesma língua todos de certa maneira estrangeiros num outro país eh enfim criamos ali afinidades eletivas e tornar-nos bastante amigos ao ponto de às tantas e no nosso circuito de jantares semanais em casa uns dos outros e eu ter sugerido eu ter sugerido não eles terem pedido que eu fizesse um
prato de bacalhau eles como brasileiros e apesar de israelitas também mas como brasileiros têm aquele Fascínio pelo bacalhau e a ideia de que o local da autoridade para fazer bacalhau é Portugal e disseram ah tens que fazer um bacalhau para nós e não sei quê e tal e eu senti-me compelido a fazer isso o drama era procurar bacalhau em tela vivo neste casa era em telaviv já não era em Jerusalém H E fiz uma pesquisa enorme contactei montes de pessoas até que descobre uma lojinha muito pequenina eh no no levinsky que é um bairro que
todo ele é um mercado é uma espécie de de de suc como se diz em árabe em hebraico chuk Ah e descobre uma lojinha completamente triste literalmente às moscas Isto é com as moscas a rodarem Ah uns peixes secos que não eram bacalhau eram outras coisas pendurados assim muito isolados numa numa numa vara com uma mola de roupa a pegar em cada um um arenc aqui um não sei que ali ah de resto a loja toda vazia e um velhinho com ar muito muito muito triste e muito deprimido muito muito velhinho lá atrás h e
eu perguntei se era ali que vendiam e bacalhau e seco e e quando eu disse bacala hh ou bacala em abraac acho eu quando eu disse bacala Ele olhou para mim assim com os olhos super abertos Perguntou se ele era espanhol eu disse não português e ele ah e não sei quê E começou falar ladino comigo que era a velha língua judaic ou ibérica né e de facto o velhote tinha vindo da Turquia era descendente de de de de portugueses há 500 anos e mas na Turquia Manteve na sua pequena comunidade sefardita Manteve a língua
ladina er um dos poucos falantes de ladino cotidianos já há muito pouca gente estava ali completamente isolado e para ele era um momento afetivo poder estar a falar comigo em ladino e eu perceber eu não respondia em português respondia em espanhol porque senão ele não não perceberia h e Mas foi muito interessante tudo isto em torno de um de uma coisa que é o bacalhau que depois ele tinha e era muito mau mas tinha e em torno de uma coisa que é o bacalhau que tinham sido os meus informantes brasileiros a pedir a partir da
sua experiência identitária brasileira apesar de estarem enquanto judeus a começar uma nova vida identitária em em em Israel e a serem estudados por um um por um português portanto há aqui uma conexão que fala muito daquilo que é o campo o trabalho de campo como apenas uma junção de um feixe muito grande de histórias pessoais históricas sociais civilizacionais não é que se juntam se juntam ali mas pronto o encontro com aquele velhinho e o e a descoberta que o velhinho fez de mim eu fiz dele e ele fez de mim foi uma forma de mostrar
como é que se tornam afetivas as que nós poderos né Eu acho que a minha experiência eh trabalhando com as emoções nas bijagós foi uma experiência muito importante claro de conhecimento de aproximação e de esforço de compreensão de mundos experienciais distantes do meu e nisso sublinha a importância da antropologia na capacidade realmente de usar instrumentos de compreensão múltiplos Isto é não só de desvelar varáveis sociais ou de analisar uma estrutura social e portanto as dinâmicas de poder inerentes Mas também de usar os próprios Sentidos o próprio corpo as próprias emoções até para criar uma resonância
para criar uma capacidade de ir além das Diferenças portanto para encontrar pontos comuns eh por acaso pensei profundamente eh nisso neste verão que fo se o meu pai porque um dos aspectos que eu nunca tinha realmente entendido por quanto tinha analisado e por quanto tinha tentado descodificar metáforas emocionais que os bijagos usavam Face o luto Face a morte me dei conta que nunca tinha entendido completamente isso por exemplo os bijagos eh nunca falam diretamente do luto ou da morte de pessoas próximas Mas usa uma série de metáforas que tem a ver com como o Canto
doos Pássaros o andar instável dos pássaros quando não está a voar portanto quando estão eh na terra e e como a necessidade é uma datura de te afastar como os pássaros levantam v e de observar o que se passa lá embaixo com uma distância emocional portanto de alguma forma de se atrair e apesar de eu ter analizado escrito sobre este mundo digamos do luto e da Morte cantado Como cantar psaros nunca tinha sentido realmente ISO Eu lembro que no dia no qual morreu meu pai efetivamente eu tinha dificultade em mandar andar normalmente camar e repente
STI fisicamente que diz quando falavam Ander and inseguro que osos quando não estava a voar e ao mesmo tempo senti esta necessidade qual estava a falar de levantar o vo ou seja de me extrair um instante de observar tudo que estava a acontecer que acontece em todos os vores por exemplo com uma distância que ao mesmo tempo uma distância de de proteção uma distância de de alguma forma de de cautela digamos para não ser sopra fato as tuas próprias emoções acho que é justamente isso de alguma forma o que a antropologia procura perceber somos profissionais
das diferenças mas também das semelhanças das conexões portanto se é verdade que que o nosso trabalho atravessar estas florestas de símbolos dizia o Victor Turner e não é para nós perdermos nelas Mas é para encontrar métodos não só para nos aproximar as florestas mas para sair das Mesas mas para encontrar percursos no trabalho que eu agora estava a fazer e no no Grande mangala Sul de Salvador na Zona Costeira da Bahia onde eu estava a trabalhar com com canoeiros isto é pessoas que exploram o manguezal através do uso de Canoas Canoas que são esculpidas em
troncos lindíssimos de madeira uma madeira amarela viva que depois com o tempo está tornando quase arrugada H E que e e e que eles próprios desculpem E e esse contacto eh com com a maneira como as pessoas eh criam os seus meios para poderem viver num ambiente que sem essas Canoas é incrivelmente árvor mas que com essas Canoas de repente se torna um meio eh fértil e e e e cheio de vida permita as pessoas viverem e permite estes pescadores fugirem um bocadinho à escravatura do trabalho mal par porque H Essa é é essa é
a escravatura com que eles vivem e então o amor que o canoeiro tem pela sua a canoa e a maneira como para fazer uma canoa ele precisa de outros hh e como ele vai encontrando esse e e e e e e essa relação com outros na e a na produção de um instrumento que depois vai ser muito dele próprio e que vai e que vai dar de comer aos filhos dele H Isso foi uma das coisas que o povo me veu mais eu lembro-me estar sentado com o meu amigo Romão que é um um um
o como ele chama torneador de canas que e ele ele ele faz as Canoas com uma com enxó que ele vai modelando são trocos muito grandes que ele depois escupe realmente hah chama-se tornear e ele estava-me a falar da maneira como ele está a ficar velho e e queria ter uma canoa para poder fazer pesca ali e como não tinha e não tinha uma que fosse suficientemente boa para ele e como os amigos se juntaram e de repente diz ele eu não sei de onde é que eles apareceram mas era preciso mover um tronco de
várias teladas e veja lá de repente tinham aí 27 homens e a gente nem sabe vi-lhe as lágrimas aos olhos e eu estava a pensar que maravilha essa espécie de de de transcendência das pessoas se sintonizaram de eles sabiam naquele dia ninguém lhes tinha dito Mas eles estavam todos el são todos amigos estavam todos ligados naqueles dia eles sabiam que ele ia precisar deles e apareceram vinham as lágrimas aos olhos conforme ele me estava a contar a história e e realmente isso foi uma foi uma eh uma é uma imagem do que é o social
sabes do Social que é um encontro entre pessoas que não se planeiam não se projetam e cada um vai pelo seu caminho mas como estamos entrosados com os outros de maneiras tão radicais no fim nesse dia em que era preciso mexer esse esse tronco eles apareceram todos a primeira o primeiro trabalho de campo que eu fiz mais a sério foi para o doutoramento [Música] e estava numa reunião das famílias anónimas porque a minha tese era sobre o animato mas eu estava a estudar num contexto particular então hav H reuniões de famílias anónimas de narcóticos anónimos
e de alcoólicos anónimos as famílias anónimas são eh sobretudo mulheres que têm filhos a toxicodependentes mulheres com 45 50 55 anos e Então imagina o que é eu estava numa sala éramos para aí umas 30 pessoas e eu estava ali sentado durante uma hora e me aquelas reuniões funcionavam eu estava ali sentada sem abrir a boca sem tomar notas sem fazer nada estava a ver como é que eles como é que eles falavam foi para aí a segunda reunião que em que eu estive presente e tu TS a ouvir aquelas histórias e aquil são histórias
muito pesadas Aquilo é muito violento h eu não tinha filhos ainda na altura e então há uma senhora Aquilo é tudo imagina uma diz e que no dia anterior e pá teve por o filho fora de casa porque estava descontrolado e queria dinheiro Ah outra conta uma história do géo eu tenho que dormir com a com a carteira debaixo da almofada tudo na minha casa tá trancada a única parte da casa que tá aberta é a cozinha e a casa de banho porque senão ele vai rouba tudo e e as histórias são todas assim [Música]
E E H tantas há uma senhora que diz que H que há mais de um mês que a última vez que tinha visto a filha a filha estava completamente descontrolada a pedir-lhe dinheiro que lhe tinha batido como ela não lhe deu dinheiro a mãe ela a filha rgol os pneus do carro com uma faca e e aquela mulher estava ali a chorar porque é mais de mês que não que não sabia nada da filha que não sabia se a filha estava viva ou morta e eu naquele momento eu eu comecei a sentir uma uma Neve
eu pensei que ia cair da cadar abaixo eu não tava a aguentar aquela dor e aquelas pessoas estavam a falar da daquilo daquela Todas aquelas coisas e já tinham dito aquela tantas vezes já tinham contado tantas vezes aquelas histórias que elas já conseguiam falar daquilo e eu só [Música] pensava que se eu tivesse filhos e não soubesse da minha filha há um mês como é que eu estava ali e e depois quer dizer todo o o trabalho que eu fiz foi perceber como é que elas estavam ali como é que a terapia funciona e como
é que que elas se reconstroem mas eu pensei eu não vou aguentar fazer este trabalho eu não aguento eu não aguento este sofrimento e eu mas quer dizer e depois às tantas quase todos os trabalhos que eu escolho acabam por ser assim eu tenho manipulado a antropologia de modo a não ser infeliz Ah sou bom a fazer isso sou bom a escolher os temas e os campos que que eu sei que também me vão tornar feliz não é e que me ajudam a responder simultaneamente eu tento maximizar como é que eu posso ao mesmo tempo
fazer uma coisa que é socialmente útil que não é manipuladora das pessoas com quem estou a estudar e que pode ser boa para elas se afirmarem e se emanciparem e que ao mesmo tempo me faça sentir bem comigo próprio e também me resolv algumas questões que eu eventualmente Ten e portanto nesse sentido o trabalho acaba por ser criador de felicidade de felicidade e felicidade pessoal sem não não tenho não tenho a mínima dúvida é uma questão afetiva e não é como não é uma questão de decisão Eh agora quem encontra essa paixão quem está interessado
em em fazer esse percurso mesmo que faça coisas muito diferentes pelo caminho mesmo que não faça prática etnográfica que não faça investigação continua sempre a a sentir-se antropólogo acho que a antropologia contribui para a minha felicidade na medida em que me permite ver para além Se quisermos da superfície e e portanto permite-me olhar de forma mais aprofundada para o mundo à minha volta e isso esse exercício torna mais do mundo que me rodeia dito isto também torna mais consciente dos problemas do mundo que me rodeia h e portanto de certa maneira torna mais feliz porque
me torna mais consciente mas também me torna mais infeliz porque me torna mais consciente dos problemas do mundo à minha volta ainda alas vezes atrás qu estav a fazer trabalho de campo na guin Bissau pá nos bijagós numa Canoa perdida lá no meio do dos do dos Maros bijagós eh com duas pessoas que eram os dois os dois marinheiros da Canoa e e HS tantas tivemos de meter imensa gente para dentro da Canoa porque íamos para uma reunião noutra ilha e eu pensei bom se calhar esta coisa agora vira porque mas quer dizer esses momentos
de de de descoberta do mundo que não é o teu eh isso na anologia faz-me realmente feliz essa possibilidade tu tens de olhar para outros mundos porque não é olhar para outro mundo como Quando tu vais como turista não é não é a mesma coisa é estares ali a trabalhar com as pessoas e a tentar a tentar ajudar mesmo que muitas vezes não consigas eu sou muito crítica da antropologia aplicada muito crítica de projetos de desenvolvimento mas no meio da crítica toda pá a verdade é que é que muitos de nós nós todos tentamos fazer
qualquer coisa melhor ou pior Não somos perfeitos né mas mas acho que nesse aspecto a antropologia faz-me feliz gosto muito de fazer antropologia nunca nunca nunca Ah nunca tive dúvidas sobre o caminho que Que Segui nunca tive tentações pelo caminho gosto muito de fazer anologia gosto Ah no fundo a escolha da antropologia num quadro em que poderia ter optado também pela sociologia ou pela história enfim agora a história para mim menos menos atração do que a sociologia do que a antropologia porque antropologia sociologia trabalhava mais com coisas atuais a razão de escolha da antropologia é
teve muito a ver com com com com isto tudo que eu comecei por dizer p a atração pela diferença cultural por o método de trabalho consistes em estar próximo das pessoas ou observá-las de perto e devagar e e e e portanto gosto muito de de fazer antropologia a antropologia tem me feito feliz efetivamente efetivamente não não me veria a fazer a fazer outra coisa que não antropologia acho de facto eu quando quando concorri para a faculdade fui para sociologia e e no primeiro ano pronto tive cadeiras de Antropologia pensei não não é aquilo é isto
é isto que eu quero fazer é isto é é perspectiva mais etnografia idades aprofundadas não é as grandes grandes visões do mundo e e de facto não me queixo antropologia não sei se te permite ser feliz antropologia te permite perceber as condições da tua própria felicidade isso com certeza e eventualmente te permite aceitar algo que te poderia tornar infeliz de forma muito mais simples porque percebes as dinâmicas a volta disso eu vejo por exemplo no crescer a minha filha um certo tipo de de mensagem que outra vez querendo não passo porque fazem parte da minha
bagagem dessas famosas lentes através das quais Observo a realidade e vejo como de alguma forma ela consente lidar com dinâmicas que na idade dela que é uma preadolescente uma adolescente realmente não são simples mas com uma capacidade de relativizar de contextualizar e de perceber a provisoriedade de tudo isso não sei se isso permite ser mais feliz Mas permite de alguma forma persever porque algo te pode tornar infeliz eventualmente transformar isso a anologia pode conseguir fazer as pessoas terem consciência de uma série de questões que se calhar sem a perspectiva antropológica não teriam Ou pelo menos
seria isso desejável osos povos conseguissem fazer acho que se nós conseguimos fazer no Nostro trabal c [Música] m
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