queridos na semana passada Nós lemos juntos um texto deste livro chamado tudo converge para o texto gramática escrita e leitura texto eixa escrito pelo William Campos da Cruz que é o meu colega lá da página língua e tradição excelente William é muito bom e nós falávamos na semana passada sobre qual é a aplicabilidade Qual é o motivo de nós estudarmos a estrutura do nosso idioma de nós entendermos Qual é a dinâmica do nosso idioma Quais são os porquês Quais são os nomes como funciona como posso usar aquilo para a construção da minha própria mensagem e
eu disse a você que nesta semana nós continuaríamos neste exercício com outro texto do William é o próximo texto aqui deste livrinho cuja leitura eu quero fazer com vocês também de maneira comentada o texto se chama a fruição que AD vem do entendimento e aqui ele vai mostrar na prática como o que ele disse no texto que nós lemos anteriormente É verdade então aqui nós vamos ver na prática num texto da Cecília Meireles você vai ver isso ele diz o seguinte em meu texto anter falei de como em gramática tudo converge para a compreensão e
para a fruição dos textos gostaria agora de aprofundar um pouco mais a ideia dizendo que a fruição advém do entendimento e os aspectos formais do texto muitas vezes reforçam o que está sendo dito no plano do sentido só para que a gente parta da mesma página que que ele está falando ele está dizendo o seguinte muitas vezes você entende a mensagem do texto Ou seja você entende uma camada que é a camada semântica do texto mas você não consegue pelo menos não de maneira consciente perceber como a estrutura formal do texto ou seja as palavras
escolhidas por aquele autor reforçam a mensagem daquele texto e aí você se entendesse isso estaria compreendendo aquele texto em outra camada uma camada mais profunda é isso que ele está dizendo E isso claro né uma vez sendo entendido faz com que a do texto seja muito maior ele diz espero que isso fique claro adiante vai ficar o crítico de arte Holandês Hans hooker em filosofia estética diz abre aspas aqui o que diz o Hans vemos o que conhecemos muito boa essa passagem acompanhe com carinho ó isso implica que não vemos o que não conhecemos faça
um passeio por um Pomar acompanhado de um Botânico você vê árvores ele entretanto vê esta e ela espécie e surpreende-se porque determinada árvore difere das outras de sua espécie Imagine você passeando com Botânico para você um monte de árvore talvez você até saiba o nome de uma ou outra espécie mas não só isso ele vê aquela espécie x e ele fala hum nessa espécie X tem uma idiossincrasia que não costuma aparecer nesse tipo de árvore Olha que bacana ele vê o que você não consegue ver porque ele tem naquele Imaginário dele muito mais informações a
respeito das espécies botânicas e ele diz isso surpreende porque determinada árvore tá tá observa os insetos movimentando-se nas árvores ele pode mostrar e ensinar-nos a ver embora isto nem sempre seja fácil e leve tempo até que sejamos realmente capazes de ver as coisas que são óbvias aos iniciados não é claro é uma arte né você vai aprendendo toda a educação consiste em abrir os nossos olhos e ensinar-nos a ver Olha que metáfora fantástica O que é que o Hans hooker tá falando para nós que o processo de educação é um processo de incorporação de um
conhecimento capaz de nos fazer abrir os olhos para aquilo que outrora nós nem sequer víamos exatamente como um Botânico o botânico passeando pela Floresta vê muito mais a respeito das aves a respeito das das das árvores e da Terra e do clima muito mais do que você vê caso você evidentemente não seja em si um Botânico por quê Porque ele foi iniciado naquela ciência porque ele foi ensinado a ver aquilo Porque os olhos dele foram abertos para aquele conhecimento continua agora o William a ilustração de Hook merer É Poderosa Não é que a singularidade de
cada árvore ou a variedade de insetos não estivesse ao alcance dos olhos de um observador leigo você estaria vendo aquilo né estavam ali mas eram percebidas como uma massa amorfa ou seja uma massa sem sem sem contornos definidos sem contornos Claros Aliás ele fala Exatamente isso para que haja pleno deleite do que temos diante de nós é necessário vencer essa etapa Inicial e dar mais um passo observem que eu disse pleno deleite O que quer dizer que pode haver deleite parcial mesmo ao olhar menos instruído é claro que você pode passear por uma floresta e
gostar muito deste passeio nós estamos falando de uma camada mais profunda de entendimento daquele passeio de observação daquelas espécies em grande medida um professor de língua portuguesa deve exercer o papel do Botânico diz o William da ilustração acima e ensinar-nos a ver aspectos menos evidentes do texto um exemplo pode deixar claro o que quero dizer e aqui a gente parte pra prática no poema pescaria publicado em ou Isto ou Aquilo Cecília Meirelles brinca com a sonoridade das palavras e com a extensão dos versos de maneira absolutamente extraordinária diz o poema Olha só vou ler o
poema para você cesto de pees no chão cheio de pees o mar cheiro de Pee pelo ar e pees no chão chora a espaa na mar é cheia as mãos do mar vem e vão mãos do mar pela areia onde os pees estão as mãos do mar vem e vão em vão não chegarão aos peixes no chão por isso chora na areia A Espuma da mar é cheia Há muitos diz o William Pode parecer um poema simples que Lemos distraído e seguimos para a página seguinte a graça começa quando detemos o olhar e o ouvido
e damos uma segunda chance ao texto neste momento começamos a perceber que certos fonemas certos sons ali dentro se repetem ao longo de todo o poema peixe cheio cheiro chão chora cheia vem vão Então estes [Música] fonemas se repetem ao longo do poema hum há um predomínio Evidente do fonema x e Alguém poderia estranhar a menção ao poema v o que esses fonemas TM em comum Ambos são fonemas fricativos cuja articulação se dá por meio de um estreitamento da cavidade bucal fazendo com que o ar passe por uma fenda apertada Olha só você encosta o
Lábio no dente nos dentes ó e faz Faz até cosquinha aqui no lábio se você fizer isso agora por quê Porque o ar passa de maneira apertadinha por aqui daí surge esse som da mesma forma com SH Você fecha o espaço fecha sua cavidade bocal e deixa só o espacinho pra passagem do ar agora pensea sua experiência pessoal você já pôs a orelha numa concha a fim de ouvir o barulho do mar gente eu amava isso quando era criança até porque eu sou de Goiânia né Goiânia não tem mar então era um jeito de me
aproximar do mar ali colocava e ficava ouvindo o barulho do mar ali na concha Se tivesse que imitar com a boca esse marulhar que é este som do mar como Faria não é assim que a gente imita o mar geralmente Muito provavelmente você também se Valeria de soms similar esses fonemas fricativos talvez mais x né eu pensaria em x agora volte ao texto diz o William a cada verso com o simples emprego de pronomes fricativos Cecília Meirelles no nos faz ouvir o próprio mar vou ler só um pedacinho do texto aqui de novo só para
que você lance esse olhar cestos de peixe no chão cheio de peixes o mar cheiro de peixe pelo ar e peixes no chão tá vendo que fica o tempo inteiro esse sh remetendo ainda que você perceba isso só intuitivamente mas você percebe que há essa remissão ao som marítimo no plano do sentido diz o William temos uma cena Praieira no plano da forma ou seja a escolha das palavras a expressividade fonética a expressividade dos sons reforça este sentido e como que nos transporta para o lugar em que a cena se dá perceberam há mais Observe
agora como se repete o verso as mãos do mar vem e vão por quê Porque esse verso aparece mais de uma vez por quê Porque mais uma vez a autora está usando o plano da forma da estrutura das palavras para reforçar o sentido ao falar da subida da Maré que se dá de maneira intermitente acontece de tempos em tempos ela usa a repetição do verso para apontar esse caráter reiterativo Ou seja a repetição reiterar significa repetir este caráter reiterativo do movimento das ondas Ah então por que é que ela repete essa estrutura porque também o
movimento do mar é um movimento repetitivo Ah legal então na forma existe uma uma replicação daquilo que existe na realidade insistindo na leitura podemos enxergar ainda mais coisas revisit temos o trecho veja lá o trecho ele pega lá do verso 7 as mãos do mar vem e vão as mãos do mar pela areia onde os peixes estão as mãos do mar vem e vão de novo em vão não chegarão aos peixes no chão agora continuando o verso as mãos do mar vem e vão contém sete sílabas e termina numa sílaba tônica vão é uma sílaba
tônica o verso imediatamente seguinte Embora tenha a mesma quantidade de sílabas poéticas termina numa sílaba átona o verso onde os peixes estão tem apenas se sílabas já já a gente vê isso na prática Mas uma vez a forma reforça o sentido no verso 7 que é este aqui ó as mãos do mar vem e vão temos um avanço da onda as mãos do mar vem e vão Olha como vão uma sílaba forte que termina com a amarela em cima nos versos o e temos o recu Olha só as mãos do mar vem e vão as
mãos do mar pela areia Olha como termina fraquinho onde os peixes estão Olha só as mãos do mar vem e vão as mãos do mar pela areia onde os peixes estão percebe se você inclusive olhar aqui para os versos você vai ver que eles vão diminuindo eles vão ficando cada vez menores imitando Exatamente esse movimento do mar né que vai retrocedendo digamos assim e aí ele diz na estrofe seguinte o efeito fica ainda mais Evidente até mesmo do ponto de vista gráfico que é isso que eu disse os versos vão diminuindo a disposição do texto
na página mostra o avanço e o recuo do mar a extensão dos versos 10 a 13 realçam o fato de os peixes estarem fora do alcance das mãos do mar o verso 10 É este aqui ó as mãos do mar vem e vão em vão Olha como fica menor não chegarão são versos bem menores ou seja um bracinho curto do mar que não consegue alcançar ali os peixes é como se o mar ele diz estendesse seus braços mas ainda de modo insuficiente assim como o próprio verso ele não consegue alcançar o verso de de cima
que é maior Cecília diz isso explicitamente por meio das palavras mas sugere a mesma ideia com sua métrica compare com os versos 14 e 15 Vamos ler juntos o verso 14 diz por isso chora na areia e o verso 15 diz A Espuma da mare cheia Então veja compare agora os versos 14 e 15 esse que eu li com os versos 5 e 6 vamos ver juntos os versos 5 e se o cinco diz chora A Espuma pela areia na marecheia tá comparemos embora não seja propriamente uma repetição há uma retomada do que foi dito
anteriormente Então ela repete a ideia repetindo algumas palavras também de novo diz o William é preciso evocar a nossa experiência na praia as ondas do mar deixam sua marca de espuma na areia a retomada dos versos é uma forma de fazer a espuma marcar a areia e também o poema então ela retoma passa é igual O mar vai deixa uma marca e volta depois ele vai e passa por cima daquela mesma marca de novo e volta não é assim que acontece indefinidamente assim são os versos também da cicília eles se repetem como se eles estivesse
eles estivessem passando de novo por cima daquela mesma marca Como o próprio mar faz E aí o William termina fazendo uma reflexão primorosa ele diz o seguinte um de meus maiores esforços nos últimos anos tem sido falar de gramática não como uma disciplina como um fim em si mesma mas mas como um instrumento para leitura e análise de textos eu até diria mais em todos os meus cursos eu mostro isso inclusive sobre como o domínio dessas ferramentas nos ajuda a pensar de maneira mais clara construir os nossos raciocínios de maneira mais consciente detendo esses mecanismos
da nossa língua e ele continua um Botânico precisa estudar a anatomia das plantas para que diante do Pomar veja em cada detalhe e cada variação que se apresenta na vegetação real bom é claro que aquele Botânico antes estudou para que ele possa enxergar aquilo um leitor precisa de boas noções de gramática para que estas lhe sirvam de instrumento para lidar com textos então se você vai lidar com texto você precisa conhecer os instrumentos relativos àquilo as ferramentas que construíram aquele texto você imaginava Ele pergunta que conhecer os diferentes modos de articulação das consoantes ele citou
aqui as fricativas né a posição da sílaba tônica e a contagem de sílabas poderia disciplinar nossa atenção enquanto Lemos percebeu como nem toda repetição é viciosa e precisa ser evitada a todo custo porque muitas vezes a gente estuda isso né Toda repetição é um problema de coesão isso não é verdade se ela é intencional se ela tem um propósito se ela quer dar ênfase Por exemplo quando você veja Martin Luther King a have a dream quantas vezes ele repete a have a dream naquele discurso que é antológico dele você acha que foi sem querer tipo
ah não é um problema de coesão do Martin Luther King é lógico que não ele que ele quer quer dar ênfase quer firmar um ponto de vista quer defender aquilo da mesma forma a Cecília Meirelles não que ela queira defender um ponto de vista mas ela quer marcar aquela espuma do mar ali passando pela areia e mostrar que o movimento do mar é um movimento de repetição Por isso as palavras também são elas mesmas repetidas aqui ao longo do poema ah viu como até mesmo a distribuição do texto na pá pode ter um efeito significativo
posso presumir que a partir de agora você dispõe de mais recursos para analisar os textos e que isso em última análise redundará em mais fruição em mais deleite em mais prazer na leitura Ele termina nos perguntando a minha resposta é sim eu acredito fiam nisso eu acho que quanto mais nós detemos conhecimento do nosso idioma mais a gente é capaz de fruir essa maravilhosa invenção E aí existe um espaço enorme aqui para falar se é invenção ou não que é a língua Espero que você tenha fruído tanto este conteúdo quanto eu frui ao elaborá-lo para
você e claro fica sempre o convite para que você conheça o texto Irresistível vou deixar aqui o link que é o meu curso de boa escrita e gramática normativa Eu falo sempre nos meus cursos que todas essas ferramentas que nós desenvolvemos e Que nós conhecemos servem para o texto nada do que você aprender ali dentro do curso vai ser um fim em se meso mesmo vai ser sempre para que você consiga escrever de maneira Consciente e construir bons textos e até polir seus próprios pensamentos também um beijo e até semana que vem