Nos sete livros apócrifos que a Igreja Católica acrescentou ao cânon dos 66 livros, tradicionalmente, nenhum deles fala disso, de Maria Assunta aos céus. E esse é outro tema que é absurdo, né? Ele diz assim que a igreja acrescentou sete livros ao cânon.
Bom, o cânon foi definido pela primeira vez num Concílio Universal no século XV. A Reforma Protestante acontece no século XVI; porém, o cânon foi, várias vezes, digamos assim, descrito, apresentado em concílios regionais. Nós temos, por exemplo, lá no século V, o Concílio de Cartago, século IV-V, que fez a primeira relação do cânon tal como nós o conhecemos.
Isso, depois, ao longo da Idade Média, vai ser objeto de discussão. A questão do cânon nunca foi muito fundamental para a Igreja no primeiro milênio e no segundo milênio, contrariamente ao que os protestantes inventaram; nunca foi tão fundamental assim. Por quê?
Porque todo mundo sabia o que era ser católico, todo mundo sabia onde estavam os bispos, os sacerdotes, onde estavam os sacramentos, aonde estava a Igreja. No fundo, o critério para a definição do cânon foi simplesmente a utilização do cânon na Igreja. Quando São Jerônimo, influenciado pelos judeus, tentou excluir os deuterocanônicos, os sete livros e as partes de Ester e Daniel do Velho Testamento, o Papa Cisto falou: "Não, não faça isso, porque eles são lidos na Igreja.
" São Agostinho teve uma polêmica com São Jerônimo, naquela altura, defendendo a tradução grega do Velho Testamento dos 70, justamente porque ele dizia: "É o texto lido em todo o Oriente. Nós não podemos inventar agora uma coisa diferente daquilo. " Então, no fundo, o critério é a utilização na Igreja desde os tempos dos apóstolos.
Eu sempre digo, por exemplo, se você pegar João, capítulo 1, faça um paralelo com Sabedoria 7, Eclesiástico 24 e Baru 3. São três livros deuterocanônicos. Primeira João foi composta de olho nesses três textos, ou seja, nos tempos apostólicos, a Igreja se valeu dos deuterocanônicos tranquilamente da versão dos 70 da Sagrada Escritura.
Foram os protestantes que removeram esses livros da Bíblia. É o contrário! Isso aqui é uma inversão que nós sempre precisamos esclarecer.
E a polêmica que havia? Havia, sim, havia alguns padres da Igreja, sobretudo escritores eclesiásticos mais tardios, que tinham suas dificuldades com os deuterocanônicos, mas isso tudo foi sendo superado ao longo dos tempos. Não era uma questão tão vital assim para a Igreja.
No Oriente, a confusão é muito maior ainda, porque o cânon das igrejas do Oriente é muito variável. Por exemplo, a Igreja Copta tem, se eu não me engano, 80 livros no cânon das escrituras, não apenas 73. Enfim, essa questão nunca foi muito vital, inclusive porque quem a determinou não foi ninguém senão a própria Igreja.
Bom, eu acho que o que tinha para falar aqui sobre o cânon das escrituras é isso. Muito obrigado.