Becos da Memória – Ocupação Conceição Evaristo (2017)

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Itaú Cultural
No romance Becos da Memória, escrito em 1983 e publicado em 2006, Conceição Evaristo ficcionaliza as...
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Essa é uma das Mil vezes que eu venho a Belo Horizonte e volto aqui é nesse lugar e tenho sempre a mesma sensação de que a cidade me traiu né de que esse espaço aqui me traiu na medida que eu não reconheço mais onde era a minha casa onde meu umbigo umbigo tá enterrado não só o meu como de todos os meus irmãos porque todos nasceram aqui e minha mãe tinha por hábito de de enterrar os umbigos do neném de B da terra aliás é um hábito também ancestral africano então Eh voltar aqui procurar reconhecer
esse espaço e ao mesmo tempo eh estar tão Vivo Essa memória da minha infância da minha da minha adolescência eh dos vizinhos ao entorno e perceber esse espaço tão diferente eh e que a gente não não pôde fazer nada quando houve o plano eh de desfavelamento diziam que iam construir o hospital que i construir não sei o qu que ia construir não sei o qu E durante muitos esse espaço ficou praticamente abandonado então quando a gente passava tinha sempre aquela sensação que a gente poderia ter ficado aqui mais um pouco eu acho que eu tinha
a a esperança ou a vontade de que algum milagre acontecesse que a gente não ia sair desse espaço nunca e hoje eu fico pensando também eu ento morar muito tempo numa mesma casa tem eu tenho 40 e Poucos Anos de Rio de Janeiro eu acho que eu já fiz umas 20 mudanças de casa do Rio de Janeiro talvez à procura Não sei tô pensando talvez à procura desse espaço original que nós perdemos e que eu gostava tanto havia o medo o incerto o imprevisível do amanhã mas havia idade a força o desejo de vida Maria
nova tinha feito no dia anterior as provas finais despedido dos professores dos colegas e amigos não voltaria no próximo ano mas Voltaria a estudar um dia eu lembro que ela tinha um código né que ela chegava bem tarde à noite então para não acordar todo mundo que era era lá na favela Então tinha várias casas perto ela gritava olê e o pessoal de dentro de casa alguém tiver essa acordado respondi Olá Aí ela ia dormir que era só um có para não ficar acordando vizinho À noite ela chegava por volta de 11 horas da noite
conseguia voltar lá subir o morro né é depois da escola é tipo eu cheguei né tipo ve fal cheguei falava olé viu g a vez demorava escutar eu tava assim olé olé viu G olé viu gente eu me lembro que ela tinha uma certa desenvoltura porque a gente não tinha hábito de sair no centro da cidade e tudo e ela que fazia tudo isso por exemplo queria comprar uma alguma coisa no centro de Belo Horizonte ela que ia por quê Porque ela ela participava de alguns assim bem pequena ela bem nova ela já participava de
alguns movimentos jock alguns movimentos ela era sempre FOA muito satinha ela sempre sempre foi assim participava de tudo então ela era mais ela tinha mais desenvoltura Maria nova contemplou durante muito tempo pô do sol teve vontade de ler e escrever alguma coisa mas já tinha guardado os livros e os cadernos Num caixote que sempre lhe servira de cadeira ou de mesa quando ela se assentava no chão a noite veio caindo lenta e carregada de pontos Luminosos lá no céu aquela seria a sua última noite na favela eu digo com muita veemência na verdade esse espaço
é meu na medida que é meu não é nosso né de toda uma comunidade que viveu aqui na medida que que as nossas vidas né todo o princípio de nossa vida eh está plantado aqui então eu sinto que toda uma geografia afetiva que me pertencia dentro desse espaço toda essa geografia afetiva ela foi ela foi agredida eu me me lembro que eu me lembro na uma das Sensações que eu tenho quando eu estou nesse espaço e que eu ando em Belo Horizonte e e vejo uma cidade tão modificada é como se o meu meu corpo
fisicamente eh tivesse sido agredido ela morava com com marido da da minha tia que é as nossas casa eram vizinhos lá na na na favela era são cerca mas aí ela morava mais a minha cheira não tinha filhos né aí ela morava é tinha mais espaço a casa por questão de espaço ela dormia sempre lá na casa da minha tia é E aí essa minha tia querendo não tinha a vida assim um pouquinho melhor que a gente embora tava todo mundo mesmo mas porque o marido dela já era trabalhador antigo na época já era aposentado
Então tinha uma renda mais estável Então por essa tia tem a vida melhor assim digamos entre aspas né às vezes tinha lá um um bolo minha tia fazia um bolinho à tarde a conção conseguia passar de manira é na nessas imediações Eh tava situado o beco um dos becos que me levava até a minha casa por que eu calculo que é nessa direção mas essa área aqui já era barranco não tinha essa rua isso aqui tudo fazia parte do barranco não tinha esse esse asfalto na verdade o barranco começava nessa rua de baixo que era
Rua Albita e ali naquela no centro tem a a onde tem uma A rotatória ali no centro ficava a torneira de baixo nos raros momentos de folga aquela ela sempre escrev alguma coisa aqui ela na casa da dessa minha tia no quarto dela no cantinho dela lá tinha sempre umas pilhas de papéis escrito então assim parece que já fazia rascunho de algumas coisas sempre tinha rascunho cadernos cadernos escrito né agora não sei assim se hoje um dia ela aproveitou alguma coisa porque nela mudar para o rio não sei se ela conseguiu levar muita coisa física
Ela deve ter levado na memória coisa que ela já tinha escrito se perdeu porque a gente mudou para aqui também não tinha condição de trazer tudo que tinha lá né então acabou como o que ela não conseguiu levar para ela de físico ficou como LX L na palela um dia agora ela já sabia qual seria sua ferramenta a escrita um dia ela haveria de narrar de fazer soar de soltar as vozes os murmúrios os silêncios O Grito abafado que existia que era de cada um e de todos Maria nova um dia escreveria a fala de
seu povo olha para mim todas memórias devem ser relembradas é as mesmo As Memórias doloridas eu sei a minha família a gente tem muito hábito de de relembrar As Memórias doloridas sempre numa atitude de Celebrar o presente de Celebrar aquilo que a gente conseguiu é no caso específico dessa região eu não deixaria nenhuma memória de fora pelo contrário lamento aquelas que eu não consigo relembrar agora as memórias doloridas também elas são boas lembranças quando você consegue realmente sair daquele estado de dor no caso por exemplo dos brasileiros e dos afos brasileiros gente traz a memória
da escravidão para celebrar a resistência não há por exemplo como pensar na história do Brasil na memória brasileira sem pensar a memória da da escravidão mas sempre pensar essa memória é dolorida também como um espaço de resistência e eu sou memorialista eu gosto principalmente da memória coletiva escrevo em homenagem póstuma a vó Rita que dormia embolada com ela a ela que nunca consegui ver plenamente aos bêbados às aos malandros às crianças que habitam os becos de minha memória homenagem póstuma às lavadeiras que madrugam os varais com roupas ao sol a Tião puxa faca A velha
jolina a dona aó ao Pedro Cândido ao sonor a Dona Maria mãe do Aníbal ao Catarino a velha Lia a Terezinha doscar linda a Marinha dona do pad homens mulheres crianças que se amontoaram dentro de mim como amontoados eram os barracos de minha favela h
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